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Quem pesquisa na web aprende melhor do que quem usa IA, revela estudo

Experimentos com mais de 10 mil pessoas mostram que a busca ativa estimula o raciocínio e melhora a retenção do conhecimento.

Por Luiza Lopes
29 out 2025, 16h00

Um novo estudo da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia (EUA), mostra que pessoas que buscam informações na internet aprendem mais do que aquelas que recorrem a ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa, como o ChatGPT.

A pesquisa, conduzida por Shiri Melumad e Jin Ho Yun e publicada na revista científica PNAS Nexus, concluiu que usuários de mecanismos de busca desenvolvem conhecimento mais profundo e produzem respostas mais originais e úteis do que aqueles que dependem exclusivamente de sistemas de IA.

Os modelos de linguagem usados em plataformas como o ChatGPT – conhecidos como LLMs (Modelos de Aprendizagem Linguística, do inglês Large Language Models) – pertencem a um ramo da IA generativa capaz de processar grandes volumes de texto e produzir respostas em linguagem natural. Essa conveniência, apontam os autores, tende a transformar o aprendizado em uma atividade passiva, com menor envolvimento cognitivo.

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Para chegar a essas conclusões, Melumad e Yun realizaram sete experimentos independentes com mais de 10 mil participantes, distribuídos entre tarefas práticas e situações de leitura simulada. Os temas escolhidos eram simples e familiares como “como plantar uma horta”, “como levar uma vida mais saudável” e “como lidar com golpes financeiros” , de modo que os resultados refletissem o comportamento de usuários comuns.

No primeiro experimento, cerca de 1.100 pessoas foram divididas entre dois grupos: o primeiro usou uma IA para aprender a plantar uma horta; o segundo, o Google. Ambos deveriam escrever conselhos sobre o tema. Os usuários de IA gastaram menos tempo pesquisando, relataram menor esforço e escreveram textos mais curtos e parecidos entre si. Já os que usaram o buscador produziram respostas mais longas, com linguagem mais variada e maior número de referências factuais.

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O segundo experimento testou se a diferença vinha do tipo de informação ou apenas da forma como ela era apresentada. Cerca de 2 mil pessoas receberam as mesmas sete dicas de jardinagem, mostradas de duas formas: em um resumo único, como o gerado por IA; ou divididas em várias páginas que simulavam os resultados de busca do Google.

Mesmo com o conteúdo idêntico, quem navegou pelo formato fragmentado e longo reteve mais detalhes e escreveu textos mais originais e ponderados. Segundo os autores, o modo de apresentação da informação influencia diretamente a profundidade do aprendizado.

Nos experimentos seguintes, os pesquisadores variaram os temas, como saúde e segurança digital, e observaram o mesmo padrão: o grupo que interagia com buscadores produzia textos mais detalhados e demonstrava maior compreensão conceitual dos assuntos.

Em outro teste, os participantes foram instruídos a consultar tanto resumos quanto links clicáveis uma versão híbrida inspirada nas novas interfaces do ChatGPT e do Google. Ainda assim, apenas um quarto deles acessou as fontes originais, o que mostrou que o simples fornecimento de links não é suficiente para estimular o engajamento.

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O último experimento envolveu avaliadores independentes: 1.501 pessoas que não sabiam a origem dos textos classificaram as respostas baseadas em IA como menos úteis, informativas e confiáveis, enquanto valorizaram mais as escritas após buscas na web.

Além disso, as pessoas mostraram-se menos dispostas a seguir os conselhos gerados por IA. Já as orientações derivadas de buscas foram consideradas mais detalhadas, ricas e convincentes.

 

Os pesquisadores destacam que a diferença não está no conteúdo em si, mas na forma de apresentá-lo. Quando o sistema fornece um resumo único, o usuário tende a aceitar a resposta sem questionar, reduzindo o esforço mental para compreender o tema. A navegação por links, por outro lado, obriga o leitor a comparar fontes e interpretar textos diversos antes de formular uma conclusão. Esse processo mais ativo estimula a reflexão e melhora a retenção do conhecimento.

Melumad relaciona o fenômeno ao chamado “Efeito Google”, descrito em pesquisas anteriores: a tendência de lembrar menos quando se sabe que é fácil reencontrar a informação. “Estamos nos afastando ainda mais da aprendizagem ativa”, disse em entrevista ao Wall Street Journal.

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O estudo também analisou o aspecto motivacional. Os pesquisadores observaram que, ao interagir com sistemas de IA, muitas pessoas reduzem o esforço cognitivo por acreditarem que a tecnologia oferece respostas melhores do que poderiam produzir sozinhas. O resultado é um aprendizado superficial: chegam à resposta certa, mas sem realmente compreender ou reter o conteúdo.

Os resultados levantam preocupação sobre o futuro da aprendizagem em um ambiente cada vez mais mediado por IA. Segundo os autores, depender excessivamente desses sistemas pode limitar o desenvolvimento do chamado conhecimento processual a compreensão de como fazer algo, e não apenas o que fazer. Esse tipo de saber exige prática, raciocínio e interação com múltiplas fontes, elementos que se perdem quando o processo de busca é substituído por respostas automáticas.

Melumad expressou preocupação com o uso indiscriminado dessas ferramentas entre estudantes. “Os jovens estão recorrendo cada vez mais aos modelos de linguagem em primeiro lugar. Mas, se não ensinarmos como interpretar e sintetizar informações por conta própria, corremos o risco de perder completamente a capacidade de aprender com profundidade”, afirmou.

Vale destacar que os autores não defendem o abandono das IAs, mas seu uso de forma crítica – como apoio para revisar textos, testar hipóteses ou gerar contrapontos. O problema, alertam, está em transformar a ferramenta em substituto para o pensamento.

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