Quem pesquisa na web aprende melhor do que quem usa IA, revela estudo
Experimentos com mais de 10 mil pessoas mostram que a busca ativa estimula o raciocínio e melhora a retenção do conhecimento.
Um novo estudo da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia (EUA), mostra que pessoas que buscam informações na internet aprendem mais do que aquelas que recorrem a ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa, como o ChatGPT.
A pesquisa, conduzida por Shiri Melumad e Jin Ho Yun e publicada na revista científica PNAS Nexus, concluiu que usuários de mecanismos de busca desenvolvem conhecimento mais profundo e produzem respostas mais originais e úteis do que aqueles que dependem exclusivamente de sistemas de IA.
Os modelos de linguagem usados em plataformas como o ChatGPT – conhecidos como LLMs (Modelos de Aprendizagem Linguística, do inglês Large Language Models) – pertencem a um ramo da IA generativa capaz de processar grandes volumes de texto e produzir respostas em linguagem natural. Essa conveniência, apontam os autores, tende a transformar o aprendizado em uma atividade passiva, com menor envolvimento cognitivo.
Para chegar a essas conclusões, Melumad e Yun realizaram sete experimentos independentes com mais de 10 mil participantes, distribuídos entre tarefas práticas e situações de leitura simulada. Os temas escolhidos eram simples e familiares – como “como plantar uma horta”, “como levar uma vida mais saudável” e “como lidar com golpes financeiros” –, de modo que os resultados refletissem o comportamento de usuários comuns.
No primeiro experimento, cerca de 1.100 pessoas foram divididas entre dois grupos: o primeiro usou uma IA para aprender a plantar uma horta; o segundo, o Google. Ambos deveriam escrever conselhos sobre o tema. Os usuários de IA gastaram menos tempo pesquisando, relataram menor esforço e escreveram textos mais curtos e parecidos entre si. Já os que usaram o buscador produziram respostas mais longas, com linguagem mais variada e maior número de referências factuais.
O segundo experimento testou se a diferença vinha do tipo de informação ou apenas da forma como ela era apresentada. Cerca de 2 mil pessoas receberam as mesmas sete dicas de jardinagem, mostradas de duas formas: em um resumo único, como o gerado por IA; ou divididas em várias páginas que simulavam os resultados de busca do Google.
Mesmo com o conteúdo idêntico, quem navegou pelo formato fragmentado e longo reteve mais detalhes e escreveu textos mais originais e ponderados. Segundo os autores, o modo de apresentação da informação influencia diretamente a profundidade do aprendizado.
Nos experimentos seguintes, os pesquisadores variaram os temas, como saúde e segurança digital, e observaram o mesmo padrão: o grupo que interagia com buscadores produzia textos mais detalhados e demonstrava maior compreensão conceitual dos assuntos.
Em outro teste, os participantes foram instruídos a consultar tanto resumos quanto links clicáveis – uma versão híbrida inspirada nas novas interfaces do ChatGPT e do Google. Ainda assim, apenas um quarto deles acessou as fontes originais, o que mostrou que o simples fornecimento de links não é suficiente para estimular o engajamento.
O último experimento envolveu avaliadores independentes: 1.501 pessoas que não sabiam a origem dos textos classificaram as respostas baseadas em IA como menos úteis, informativas e confiáveis, enquanto valorizaram mais as escritas após buscas na web.
Além disso, as pessoas mostraram-se menos dispostas a seguir os conselhos gerados por IA. Já as orientações derivadas de buscas foram consideradas mais detalhadas, ricas e convincentes.
Os pesquisadores destacam que a diferença não está no conteúdo em si, mas na forma de apresentá-lo. Quando o sistema fornece um resumo único, o usuário tende a aceitar a resposta sem questionar, reduzindo o esforço mental para compreender o tema. A navegação por links, por outro lado, obriga o leitor a comparar fontes e interpretar textos diversos antes de formular uma conclusão. Esse processo mais ativo estimula a reflexão e melhora a retenção do conhecimento.
Melumad relaciona o fenômeno ao chamado “Efeito Google”, descrito em pesquisas anteriores: a tendência de lembrar menos quando se sabe que é fácil reencontrar a informação. “Estamos nos afastando ainda mais da aprendizagem ativa”, disse em entrevista ao Wall Street Journal.
O estudo também analisou o aspecto motivacional. Os pesquisadores observaram que, ao interagir com sistemas de IA, muitas pessoas reduzem o esforço cognitivo por acreditarem que a tecnologia oferece respostas melhores do que poderiam produzir sozinhas. O resultado é um aprendizado superficial: chegam à resposta certa, mas sem realmente compreender ou reter o conteúdo.
Os resultados levantam preocupação sobre o futuro da aprendizagem em um ambiente cada vez mais mediado por IA. Segundo os autores, depender excessivamente desses sistemas pode limitar o desenvolvimento do chamado conhecimento processual – a compreensão de como fazer algo, e não apenas o que fazer. Esse tipo de saber exige prática, raciocínio e interação com múltiplas fontes, elementos que se perdem quando o processo de busca é substituído por respostas automáticas.
Melumad expressou preocupação com o uso indiscriminado dessas ferramentas entre estudantes. “Os jovens estão recorrendo cada vez mais aos modelos de linguagem em primeiro lugar. Mas, se não ensinarmos como interpretar e sintetizar informações por conta própria, corremos o risco de perder completamente a capacidade de aprender com profundidade”, afirmou.
Vale destacar que os autores não defendem o abandono das IAs, mas seu uso de forma crítica – como apoio para revisar textos, testar hipóteses ou gerar contrapontos. O problema, alertam, está em transformar a ferramenta em substituto para o pensamento.
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