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RoboCopa

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 31 Maio 1998, 22h00

Denis Russo Burgierman

Romário não deverá ser o único baixinho a fazer a alegria da torcida brasileira na Copa do Mundo da França. Desajeitados minirrobôs de 10 centímetros também estão preparados para vestir a camisa verde-amarela e disputar uma taça este mês em Paris.

Tropeções e trombadas em direção ao futuro

O juiz apita. Mal a bola começa a rolar, a torcida já vibra com uma empolgante troca de passes. Tudo vai bem até que, de frente para o gol, inexplicavelmente, o atacante começa a girar em torno de si mesmo. Em vez de ajudar, o meio-campista corre em direção à mureta lateral. Tromba furiosamente contra ela. Ohhhhhh, desanima a galera. Mas nem tudo está perdido. Oportunidade de gol é o que não falta no futebol de robôs. E trapalhadas assim também são coisa corriqueira. Os jogadores, umas caixinhas de lata com cara de brinquedo improvisado – embora sejam feitos por cientistas pós-graduados –, se aprumam e seguem em frente.

Eles vão defender seus países este mês, na França, em dois campeonatos mundiais – o da Federação Internacional de Futebol de Robôs (Fira, não confunda com Fifa), sediada na Coréia, e a Robocup 98, organizada por uma entidade japonesa. Para chegar lá, as maquininhas penaram nas mãos de treinadores como o brasileiro Roberto Tavares, do Centro Tecnológico para Informática (CTI), em Campinas, cuja equipe (formada por Araweté, Kamayurá e Kaimbé) bateu quatro times nas eliminatórias locais, em abril. Nem os nomes bem escolhidos – Robonaldo, Robomário e C3Pelé (referência ao robô de Guerra nas Estrelas e ao Rei do Futebol) – livraram o time da Universidade de São Paulo (USP) da goleada de 15 a 0.

Pelo jeito, o Brasil, que deve participar do torneio da Fira, vai bem representado à França. E isso é ótimo para o desenvolvimento tecnológico nacional. Ao driblar os problemas no campo, os robozinhos vão aprendendo a dominar o trabalho em equipe. Bem treinados, poderão encontrar emprego em ramos bem diversificados, formando gloriosos times de exploradores espaciais, de desentupidores de canos ou até de faxineiros em ambientes poluídos nos quais o homem não pode circular.

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Bom mesmo era ter um árbitro robô

O jornalista esportivo Juca Kfouri comenta, a pedido da SUPER, o futebol das máquinas.

Jamais um robô fará em campo algo que se compare ao que Pelé fez. Jamais um time de robôs será páreo para um time de homens. Certamente, no entanto, um árbitro robô seria melhor que os apitadores atuais – como é inegável a superioridade de um futebol que pudesse prescindir dos técnicos, salvo raríssimas exceções”.

“No futuro quem sabe, mas, no estágio em que está, o futebol de robôs é bem chatinho, entre outras coisas porque banaliza o gol. Ele está para o esporte assim como o isqueiro recarregável está para a caixa de fósforos. Se os palitos tivessem sido inventados depois, todo mundo iria concordar que eles são bem melhores.

Juvenis e profissionais

São dois tempos de 5 minutos, mas o jogo, nas duas categorias, pára tanto que pode durar 1 hora.

Fira

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Há três jogadores em cada time. Eles têm 7,5 centímetros de altura e peso variável. A única imagem usada é a transmitida pela câmera fixa sobre o campo (veja à esquerda). A bola é de golfe e a mesa, de pingue-pongue. O campo tem 1,30 metro por 90 centímetros.

Pequenos e ágeis

Por dentro, todos os robôs que disputam a taça da Fira obedecem à arquitetura ao lado

• bateria

• freio

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• sistema de chute motor

Robocup

Os times são compostos por cinco robôs com cerca de 30 centímetros de altura e 10 quilos. Cada um carrega uma câmera de vídeo, o que sobrecarrega o computador, deixando-o lento. A bola tem 20 centímetros de diâmetro e o campo mede 8,22 por 4,58 metros.

Multiolhos

O robô da empresa americana ISR, é um dos mais sofisticados na Robocup

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• câmera de vídeo

• sonares para

• evitar trombadas

Campo é laboratório para a pesquisa da robótica

Apesar do desempenho pífio dos robôs como esportistas, os cientistas envolvidos garantem que eles vão ficar bons de bola. Sonhando, o coreano Jong-Hwan Kim, presidente da Fira, disse à SUPER que, “no começo do século XXI, a idéia de um jogo entre um time humano e um de robôs poderá se tornar realidade”. Mais pé no chão, a portuguesa Manuela Veloso, da Universidade Carnegie Mellon, no Estados Unidos, campeã na Robocup do ano passado, acha que os jogos são mesmo é bons laboratórios. “Em campo, os robôs formam uma espécie de sociedade e os indivíduos colaboram entre si”, disse ela à SUPER. Ora, fazer máquinas que se saem bem em situações de cooperação é muito mais desafiador do que criar robôs que se limitam a atividades repetitivas.

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Até agora o único quesito em que se pode considerar os jogadores de lata melhores do que os de carne é a visão. A placa de imagem ligada ao computador processa até sessenta imagens por segundo enquanto os humanos são capazes de ver vinte. Mas isso adianta pouco, porque o tempo que o programa leva para decidir o que fazer não é páreo para o raciocínio de um Ronaldinho.

É que jogar futebol não é o mesmo que jogar xadrez. No xadrez, o homem é que tem de pensar como um computador. Já o futebol exige mais intuição e consciência dos limites do corpo, capacidades que as máquinas ainda não adquiriram. Isso sem falar na mecânica, que deixa muito a desejar. Desajeitados, os robôs trombam, encalham e dão chutes sem o menor vigor. Quando chegarem, as pernas vão piorar a situação, pois o equilíbrio vai ficar mais difícil. Por enquanto, Ronaldinho pode ficar tranqüilo. Seu reinado está longe de ser ameaçado.

Para saber mais

NA INTERNET

Fira: https://www.fira.net/fira

Robocup: https://www.robocup.v.kinotrope.co.jp/02.html

Jogadas ensaiadas

É no programa de computador que estão as táticas capazes de decidir a peleja.

Na linha de fundo

Se há um defensor entre a bola e o gol, o computador manda o atacante tocar para uma das pontas. Ao mesmo tempo, envia para lá o jogador encarregado de receber o passe.

Apelou para a falta

O atacante adversário corre para o gol com velocidade. O zagueiro, incapaz de roubar a bola, provoca a trombada. Com a falta, o jogo pára e todos têm tempo para se reorganizar. O risco é o juiz marcar pênalti.

Protegendo o companheiro

Enquanto um jogador corre com a bola pela lateral, outro, do seu time, vai ao lado, fazendo um escudo contra os zagueiros. Se um adversário tentar se aproximar, terá que fazer falta no robô batedor.

Cruzamento na área

Uma jogada comum é mandar o ponta chutar a bola em cima do centroavante, que em geral fica parado na área. A bola repica e engana o goleiro, que esperava um chute direto e não tem tempo de chegar até ela.

Com brasileiro não há quem possa

Se depender do entusiasmo do técnico, o time canarinho é capaz de levar a taça.

Quando se trata de robôs, bons de bola mesmo são os coreanos, japoneses e americanos – todos reconhecidos pernas-de-pau no no jogo de carne e osso. Mas Roberto Tavares, responsável pela equipe do CTI, de Campinas, que se classificou para representar o Brasil em Paris, quer mudar essa história. “Estamos melhores que 80% dos times e iguais aos outros 20%. Vamos dar um susto nesse pessoal”, diz Roberto, em um estilo que está mais para Zagallo do que para pesquisador científico.

Torcedor “não-fanático” do Atlético Mineiro, o engenheiro de 43 anos pouco se interessa pelo futebol de verdade. Quando fala dos robôs, porém, se transfigura. Para ele, o futebol biônico é um chamariz capaz de atrair talentos para a robótica. Uma vez lá, essa gente poderá pôr em prática outros projetos. Ele, por exemplo, está desenvolvendo um robô submarino para vistorias em barragens e navios.

Um dos segredos do sucesso do seu time é a placa de imagens, comprada da empresa NewtonLabs, que venceu as duas únicas copas já disputadas na categoria. Além disso, os jogadores usam o mais avançado sistema de chutes, com mola (veja infográfico na página ao lado), e têm, na parte dianteira, uma peça de borracha para segurar a bola nas curvas. Pena que não adianta torcer.

Os robôs não ouvem.

Pontapés mixurucas

Os chutes dos jogadores eletrônicos são fracos e sem graça.

Com goleiro e tudo

O jeito mais simples de chutar é ir correndo e empurrando a pelota até bater no goleiro, jogando-o junto para dentro do gol. É assim que sai a maioria dos gols.

De bica

Robôs mais incrementados têm uma mola e um parafuso que fazem as vezes de pé na hora do chute. A bola voa e o computador inimigo não consegue acompanhá-la. Às vezes, porém, toma rumo inesperado.

De trivela

Para obter mais força, o robô se vira com a máxima velocidade possível e bate na bola de lado. O problema é que fica difícil saber que direção ela vai tomar.

Máquina de fazer gols

Na categoria em que o Brasil joga, os robôs não carregam câmeras.

1. Tudo sob controle

Uma única câmera de vídeo, no alto, focaliza o campo inteiro e se guia pelas cores. Laranja é a bola, amarelo é um time, azul é o outro. Sessenta imagens são captadas por segundo.

2. Análise rápida

Um computador ligado à câmera recebe as imagens e compara cada uma com a anterior, verificando se os jogadores e a bola se moveram, e com que velocidade.

3. Ordens pelo ar

As táticas estão no programa instalado no computador. Feita a análise da situação, os jogadores recebem orientação por ondas de rádio. O único humano é o juiz. Ele pára o jogo quando há trombadas e quando ninguém toca na bola por 10 segundos.

4. Bola pra frente

Pela antena, o robô recebe as coordenadas e obedece, correndo em direção à bola ou ao gol, recuando para a defesa, chutando. Durante todo o tempo, o computador vai checando se as jogadas estão dando certo.

De passo em passo

Devagar, os robôs-jogadores estão aprendendo a andar com as próprias pernas.

1. Carrinhos

No primeiro campeonato, em 1996, eles se comportavam como os automóveis: tinham dois eixos e só o da frente virava. Era impossível virar sem sair do lugar.

2. Manobras

Agora, há dois motores, um para cada roda. Quando uma anda para a frente e a outra dá a ré, o robô gira no próprio eixo.

3. Com pernas

A empresa japonesa Sony já prometeu lançar, este ano, durante os torneios, um robô com quatro pernas. Calcula-se que em 2004 haverá modelos com duas.

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