Coluna Carbono Zero: China quer gerar energia limpa no espaço
País pretende colocar painéis solares na órbita da Terra. Entenda qual é a lógica por trás desse conceito.
É uma ideia que nasceu na ficção científica, acabou sendo posta de lado pela Nasa e agora se vê seriamente considerada pelos chineses, diante do drama das mudanças climáticas: a criação de uma estação de energia solar no espaço. A ideia não é difícil de entender: consiste em colocar painéis fotovoltaicos em órbita e transferir a energia captada por eles para uma usina em solo, por meio de um feixe intenso e concentrado de micro-ondas.
Ela também não é nova. O primeiro a popularizá-la foi o prolífico escritor Isaac Asimov, que em 1941 publicou um conto em que descrevia estações espaciais capazes de transferir energia colhida do Sol para outros planetas com raios de micro-ondas.
O conceito sempre foi difícil de implementar. Lançamentos espaciais são caros, e durante muito tempo não houve estímulo para desenvolver uma solução do tipo, quando havia opções muito mais baratas e simples. Mas essa equação começou a mudar com a urgência da humanidade em “limpar” sua matriz energética.
Painéis solares no espaço oferecem vantagens significativas sobre os instalados na Terra. Lá, eles não precisam lidar com a perda de eficiência ocasionada pela presença de uma atmosfera (que filtra radiação, com ou sem nuvens) nem com o fato de que durante as noites na Terra não há energia a ser colhida. Numa órbita geoestacionária, seria possível manter painéis expostos ao Sol de maneira quase permanente, com eficiência bem maior.
Também ajuda que os voos espaciais estejam se tornando mais baratos. E aí a China decidiu ser o primeiro país a tentar tirar a premissa do campo da ficção para a realidade. Ao final deste ano, o governo deve concluir a construção de uma instalação de teste com custo estimado em US$ 15,4 milhões, na cidade de Chongqing.
Ali serão recebidos os feixes de micro-ondas que transportarão a energia colhida com os painéis, para reconversão em eletricidade. No princípio, os testes de transmissão serão feitos com painéis suspensos por balões, a fim de desenvolver as técnicas para a transmissão por micro-ondas com alta precisão e confiabilidade. Se tudo correr bem, os chineses esperam lançar satélites com grandes painéis solares capazes de gerar 1 megawatt até 2030. E ampliar isso para 1 gigawatt até 2049.
É um projeto ambicioso, potencialmente cheio de percalços, mas que pode ter impacto na forma como geramos energia na Terra. Por ora, temos de ver se funciona mesmo.