Águas termais de Yellowstone revelam papel dos vírus gigantes na evolução da vida
Esses seres intrigantes infectam algas vermelhas há 1,5 bilhão de anos – e possivelmente foram importantes para a evolução dos seres primitivos na Terra.
As fontes termais são ambientes de grande interesse para os cientistas porque simulam o cenário em que as primeiras formas de vida surgiram há bilhões de anos: com águas em altas temperaturas e pH extremamente ácido.
Agora, um novo estudo que analisou amostras coletadas no parque de Yellowstone revelou um componente inédito desta história: os vírus gigantes possivelmente tiveram um papel importante nos primeiros capítulos da vida na Terra, infectando seres vivos primitivos há 1,5 bilhões de anos.
O estudo, publicado na revista Communications Biology, foi feito por cientistas da Rutgers University e analisou amostras coletadas na fonte termal Lemonade Creek, cuja temperatura chega a 44º C e é bastante ácida. Essa fonte é coberta por uma camada de algas vermelhas, as Rhodophyta.
Analisando o DNA das amostras, os cientistas encontraram, é claro, uma variedade imensa de seres microscópicos, como já era esperado. Ao excluir da conta as bactérias, algas e arqueas, porém, eles encontraram pedacinhos de possíveis 3700 vírus. O mais surpreendente, porém, é que a maioria (dois terços) deles eram de vírus gigantes.
Com modelos computacionais, os cientistas conseguiram reconstruir o genoma de 25 tipos de vírus. A equipe acredita que esses vírus gigantes sobrevivem infectando as células das algas na fonte termal – vírus são seres que não conseguem se reproduzir por si só, tendo que parasitar organismos vivos para isso, e, por isso, não são considerados “vida”.
Vírus gigantes são seres intrigantes para a ciência – e relativamente recentes: os primeiros foram descobertos só na década de 1980, e o grupo em si só foi descrito em 2003. Eles são muito maiores que os vírus comuns e podem superar em tamanho até muitas bactérias; seus genomas também surpreendem pelo tamanhão. Existem poucos desses seres descritos até hoje, todos pertencentes ao filo Nucleocytoviricota.
Utilizando esses genomas e comparando com o de outros vírus, os cientistas reconstruíram uma árvore genealógica dessa família viral para tentar descobrir quando eles surgiram. Foi aí que veio a surpresa: essa relação entre os vírus gigantes e as algas vermelhas tem 1,5 bilhão de anos, bem no comecinho da história evolutiva dos vírus.
Isso indica, basicamente, que os vírus gigantes interagiam com formas de vida primitivas na sopa ácida e quente ancestral.
Os cientistas acreditam que essas infecções podem ter tido importância para a evolução da vida antiga, modificando o genoma dos seres que invadiam e, talvez, até servindo como intermediário para a troca de genes entre uma espécie de unicelular e outra. Mais estudos são necessários, porém, para entender exatamente qual é o papel desses gigantes no cenário do começo da vida.