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Almeida Prado

O pioneiro da homeopatia no Brasil, nos anos 30, deixou pesquisas inéditas sobre o câncer, que a ciência não se dispôs a examinar

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 31 mar 2001, 22h00

Evanildo da Silveira

Hoje, após 51 anos de formatura, ainda permaneço com as mesmas convicções e sem o mínimo arrependimento de tudo quanto me aconteceu. Fui, sou e serei homeopata!” Escrita numa velha máquina de escrever, na era pré-computador, essa frase, de 1978, não deixa dúvidas sobre as convicções do médico Estevam José de Almeida Prado, fundador da conhecida Farmácia e Laboratório Almeida Prado.

Nascido em Rio Claro, interior de São Paulo, em 16 de dezembro de 1902 e morto na capital do Estado em 4 de setembro de 1981, formou-se em 1927, na então Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje agregada à Universidade de São Paulo como Faculdade de Medicina. No ano seguinte, deixou a alopatia de lado e abraçou a homeopatia para o resto da vida. Foi um dos primeiros homeopatas do país e, certamente, o mais entusiasmado defensor da nova idéia. Nem por isso recebeu a atenção que merecia por seu espírito inovador.

Almeida Prado diz que seu primeiro contato com a homeopatia foi em 1924, quando cursava o terceiro ano de medicina. Um tio seu, Ary César Lobo – filho do então secretário de Estado do Interior e Educação do governo Carlos de Campos, José Lobo–, contraiu uma forma grave de tifo. Durante semanas, o paciente foi tratado pelos alopatas mais respeitados, sem êxito. O doente chegou a ser desenganado.

Foi quando entrou em cena um conhecido homeopata da época, Antônio Murtinho Nobre (1875-1945). Ele fez o que parecia impossível: salvou a vida do doente. Almeida Prado disse que esse caso abalou os alicerces de suas crenças alopatas. A partir daí, grudou em Murtinho Nobre e tratou de aprender o que pôde sobre homeopatia.

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Assim, ultrapassou alguns limites ainda como estudante, enquanto freqüentava a enfermaria da faculdade e recebia aulas práticas. Depois das aulas, descrevia para Murtinho Nobre os casos mais graves do dia e ouvia dele quais seriam os remédios adequados se o tratamento fosse homeopático. “Eu, à socapa, […] quase criminosamente, os administrava à revelia de todo mundo aos respectivos doentes. Como resultado, assistia satisfeito à surpresa de meus chefes diante da melhora inesperada dos mesmos”, escreveu ele nos relatos que deixou para a posteridade.

Enquanto se aprofundava no estudo da homeopatia, Almeida Prado se baseou nos princípios da nova terapêutica para estudar o câncer e outras doenças. Em 1946, soube da teoria do médico alemão Wilhelm von Brehmer, segundo a qual o câncer poderia ser causado por micróbios chamados Siphonospora polymorpha – que, espantosamente, seriam criados pelo próprio sangue. Nessa época, trabalhava até altas horas num pequeno laboratório, no fundo de casa. Ainda na década de 50, desenvolveu uma vacina que foi usada em casos de câncer e de paralisia infantil, (quando ainda não havia a vacina Sabin). Segundo seus relatos, chegou a salvar vidas.

Essas pesquisas nunca foram avaliadas pela ciência. Almeida Prado não deixou seguidores e o que restou dele são escritos esparsos e depoimentos de familiares e amigos. Apenas nos últimos anos de vida recebeu apoio financeiro capaz de viabilizar a fundação do Instituto de Pesquisas Científicas Anhembi, no bairro de Pinheiros, na capital paulista. Hoje, o instituto não existe mais. Os registros de suas pesquisas estão em poder do médico Spencer Sidow, seu amigo nos últimos anos de vida. Sidow tem procurado, sem sucesso, convencer diversas instituições de pesquisa de que vale a pena repetir as experiências para confirmá-las ou refutá-las. Sem isso, o trabalho de Almeida Prado, aos poucos, cai no esquecimento.

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* Jornalista especializado em ciência

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