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Americanos são de marte, soviéticos são de vênus

Por estilo ou destino, os russos nunca tiveram sorte em missões marcianas; em compensação, bateram os americanos nas venusianas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 Maio 2023, 11h24 - Publicado em 12 fev 2011, 22h00

O título ao lado parece nome de livro de psicologia e autoajuda, mas é apenas uma curiosa coincidência da exploração espacial. A história começa a se desenhar para valer a partir da década de 1970, quando as missões à Lua se tornam notícia velha e as sondas interplanetárias começam a roubar a cena. Surgia uma noção inusitada: os soviéticos pareciam ter um azar tremendo quando enviavam um robô na direção de Marte. Os americanos, em contrapartida, jamais conseguiriam obter uma foto tirada da superfície de Vênus.

É bom que se diga que nenhuma das duas missões era simples. E cada uma tinha um conjunto completamente diferente de desafios. Para chegar a Marte, a coisa mais complicada era fazer o trajeto – mais longo – até o planeta e depois realizar um pouso suave, automatizado, cruzando a tênue atmosfera marciana. Já para Vênus o caminho era mais curto, mas uma sonda precisava estar preparada para resistir a uma pressão atmosférica 90 vezes mais intensa que a da Terra. É mais ou menos como estar a 1 quilômetro de profundidade, sob o oceano. Com um detalhe: além da pressão, a sonda teria de suportar um calor absurdo de quase 500 graus Celsius.

A primeira sonda a efetivamente conseguir fazer um pouso na superfície de Vênus foi a soviética Venera 7, de 1970, que transmitiu dados por 23 minutos do solo venusiano antes de ter seus circuitos completamente fritados. Mas as primeiras imagens, ainda em preto-e-branco, da superfície só viriam com as sondas Venera 9 e 10, que desceram por lá em 1975.

Em paralelo a essas sondas, os russos desenvolviam as Mars, destinadas ao planeta vermelho. Mas, como elas precisavam estar pressurizadas para funcionar, durante a viagem mais longa até Marte o ar de dentro delas acabava escapando para o espaço, inutilizando os equipamentos de bordo. Algumas até conseguiram tirar fotos do espaço, mas nada mais que isso.

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Em compensação, os americanos, que só haviam feito “quedas” em Vênus, conseguiram, em 1976, pousar não uma, mas duas espaçonaves em solo marciano. As famosas sondas Viking 1 e 2 foram um sucesso espetacular. Enviaram as primeiras imagens obtidas diretamente da superfície de Marte, revelando um visual estranhamente terrestre – basicamente um deserto de terra batida e pedregulhos.

As Vikings foram também as primeiras a levar experimentos destinados a tentar detectar vida no planeta vermelho. A Nasa é categórica ao dizer que a técnica usada não detectou micróbios marcianos, mas o criador do experimento, o americano Gilbert Levin, jura até hoje que alguns dos estranhos resultados obtidos pelas sondas têm a ver com a ação de bactérias.

De qualquer forma, a impressão geral foi de que Marte era frio e seco demais para abrigar vida; já Vênus era quente e seco demais para abrigar vida. Isso, entretanto, não impediu os soviéticos de continuarem despachando sondas para lá. As mais impressionantes talvez tenham sido as Veneras 13 e 14, que em 1982 fizeram as primeiras imagens coloridas da superfície venusiana.

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Os resultados obtidos pelas espaçonaves soviéticas até hoje encantam os cientistas. O americano Don Mitchell, por exemplo, é um pesquisador aposentado dos Bell Labs e da Microsoft que agora se dedica a um projeto interessante: “remasterizar” as imagens de Vênus obtidas pelos soviéticos. Ele ficou tão envolvido pelo sucesso soviético com aquele planeta infernal que está escrevendo um livro sobre o assunto. “Está na hora de começarmos a contar histórias objetivas sobre todas as coisas fascinantes feitas no programa espacial soviético”, diz. “Tenho orgulho dos sucessos americanos e fico feliz de ver o socialismo declinar. Mas odeio quando as pessoas introduzem sua política no subtexto de artigos sobre ciência e história.”

CORRENDO ATRÁS

Claro, a Nasa também acabou tendo uma boa dose de sucesso em Vênus, embora nunca a ponto de produzir imagens em sua superfície. A mais ambiciosa investida americana contra aquele mundo inóspito foi a sonda orbitadora Magellan (em homenagem ao explorador português Fernão de Magalhães, o primeiro a circunavegar a Terra), que fez um mapeamento muito preciso, com radar, do globo venusiano. A espaçonave passou 4 anos, de 1990 a 1994, trabalhando nisso – justamente a época em que a União Soviética já estava botando os bofes pra fora.

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Em seguida, após a queda do comunismo, os russos bem que tentaram dar o troco em Marte, com a sonda Mars 96. Mas uma falha no foguete lançador impediu que a espaçonave fosse colocada a caminho do planeta vermelho. Felizmente, por essa data, a Nasa já tinha tropeçado naquele meteorito vindo de Marte que parecia conter fósseis de bactérias e estava louca para voltar a botar para quebrar. Desde 1996, data do anúncio das descobertas feitas com o meteorito, a agência americana bolou um plano agressivo de exploração de Marte, que contou com pousos bem-sucedidos da sonda Mars Pathfinder (1997), dos jipes Spirit e Opportunity (2004) e da espaçonave Phoenix (2008).

O próximo lançamento na direção de Marte deve ser mais uma tentativa russa: a Fobos-Grunt, com início de voo previsto para o fim deste ano, não mais tentará um pouso no planeta, mas, sim, na maior das duas luas marcianas. Quanto aos americanos, devem despachar em 2011 o Mars Science Laboratory, jipe robótico mais sofisticado já mandado a qualquer parte do sistema solar. Já Vênus, em 2006, recebeu a visita da sonda orbitadora europeia Venus Express, que segue trabalhando em órbita daquele mundo. No momento, não há planos, por parte de nenhuma agência espacial, para o envio de uma nova sonda ao solo venusiano.

A evolução das sondas marcianas
Confira a progressão das naves que conseguiram pousar na superfície do planeta vermelho e sobreviver para contar a história.

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Vikings I e II (1976), as pioneiras em Marte, pousaram com propulsores.

Mars Pathfinder (1996), usando air bags para o pouso, levou o jipe Sojourner.

Spirit e Opportunity (2004), robôs-veículos-geólogos mais sofisticados.

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Phoenix (2008), sonda destinada a explorar o gelo do polo norte marciano.

Lenda Espacial
A NASA esconde os homenzinhos verdes?

Parece inacreditável, mas tem gente que acredita que a Nasa esconde evidências de vida – quiçá até de uma civilização – no planeta vermelho. A boataria se formou a partir de algumas das imagens coletadas por sondas despachadas ao planeta vermelho. A mais famosa delas é a chamada “face de Marte”, uma formação montanhosa que, vista do alto pela sonda Viking 1, parecia muito similar a um rosto humano. Imediatamente surgiram rumores de que se tratava de um monumento construído por uma civilização marciana. O blablablá ficou tão intenso que a Nasa teve de começar a se defender da acusação de não divulgar fotos mais detalhadas daquela região.

A partir daí, teve gente começando a enxergar pirâmides em outras imagens de Marte, para não falar em “evidências” de vida nas fotos colhidas no solo do planeta. A poeira só começou a se dissipar quando a sonda Mars Global Surveyor, em 1997, voltou a fotografar a “face de Marte”. Ficou mais do que claro que tudo não passava de jogo de luz e sombra.

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