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Apollo 10

O ensaio geral para a primeira alunissagem tripulada.

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 8 ago 2019, 16h08 - Publicado em 19 jul 2019, 17h14

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Entre 1966 e 1969, os planos na sequência das missões Apollo sofreram mudanças frenéticas, ditadas por um misto de aprendizagem, disponibilidade, lógica e pressa. O maior símbolo dessa metamorfose ambulante foi a bem-sucedida Apollo 8, concebida de improviso e responsável por colocar a Nasa na dianteira da corrida pela Lua. A agência espacial americana sabia que o pouso estaria entre a 10 e a 11 – provavelmente a 11, mas e se surgisse um motivo para pressa, como um lançamento soviético iminente? Por via das dúvidas, Donald “Deke” Slayton, o chefe dos astronautas, decidiu escalar duas equipes 100% compostas por veteranos para as ambas as missões.

Para a Apollo 10, os escolhidos foram o comandante Thomas P. Stafford, indo para seu terceiro voo espacial, o piloto do módulo de comando John W. Young, também indo para seu terceiro voo, e o piloto do módulo lunar Eugene A. Cernan, em sua segunda missão.

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Gene Cernan, Thomas Stafford e John Young. (Divulgação/NASA)

Quando esteve no Brasil, em 2010, Cernan contou assim a história: “Eles decidiram mandar a Apollo 8 para a Lua sem o módulo lunar. A Apollo 9 teve o módulo lunar em órbita terrestre, e nos ocorreram duas coisas para a missão seguinte: se vamos enviar esses caras até a Lua, colocá-los nessa missão perigosa, por que não os deixamos ir até o final e tentar pousar? Por que assumir o risco, ir tão longe e não deixá-los pousar? E outro grupo disse: bem, vamos deixá-los fazer tudo menos pousar. Vamos aceitar os riscos, executar todos os passos que precedem o pouso e deixar só esse último passo para o próximo voo. E então essa foi a decisão, tomada antes de partirmos.”

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Com isso, a Apollo 10, realizada entre 18 e 26 de maio de 1969, foi o último passo, um “ensaio geral”, antes da tão sonhada alunissagem tripulada, estabelecida como meta pelo presidente John F. Kennedy oito anos antes. Àquela altura, faltavam menos de sete meses para expirar o prazo estabelecido pelo líder americano, assassinado em 1963, que indicava que a missão deveria ocorrer antes do final da década. Para a Nasa, era questão de honra cumprir o prazo. Então, para não arriscar demais e não perder tempo, a Apollo 10 foi a única missão do programa a partir da plataforma 39B do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. Isso para que as preparações da Apollo 11 seguissem a galope na plataforma 39A, logo ali ao lado.

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O módulo de comando e serviço Charlie Brown, em órbita da Lua. (Divulgação/NASA)

A Apollo 10 chegou à órbita lunar em 21 de maio, o módulo lunar Snoopy (pilotado por Stafford com apoio de Cernan) se separou do módulo de comando Charlie Brown (sim, uma homenagem dos astronautas aos personagens de Charles Schulz) e iniciou a descida para a Lua, chegando a sobrevoar a região do Mar da Tranquilidade, escolhida para o primeiro pouso, a meros 15 km de altitude – pouco mais que a altura típica de cruzeiro de um avião de passageiros na Terra.

Imagine dois astronautas treinados, a apenas um passo de iniciar um pouso lunar. Qual seria a tentação de, contrariando ordens, ir adiante e alunissar? Depois de enfrentar a rebeldia dos irritadiços astronautas da Apollo 7, a Nasa preferiu não arriscar, e nem abasteceu totalmente o estágio de ascensão do módulo lunar. Ele só tinha combustível suficiente para reencontrar o módulo de comando a partir de uma altitude de 15 km. Se Stafford e Cernan procedessem com um pouso não autorizado, não poderiam deixar a Lua.

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“Se eu gostaria de ter estado no primeiro pouso? Claro que sim”, disse Cernan. “Mas do jeito que aconteceu foi melhor, foi uma boa decisão, e para mim funcionou ainda melhor, porque tive a chance de voltar e comandar a tripulação que eu escolhi, no que acabou sendo o último voo até a Lua. Então, em retrospecto, não me arrependo de nada.”

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O estágio de ascensão do módulo lunar Snoopy no reencontro com o módulo de comando Charlie Brown. (Divulgação/NASA)

A Apollo 10 foi a missão que até hoje levou os astronautas mais longe de casa – ao atingir a Lua perto do momento de máximo afastamento lunar em sua órbita ao redor da Terra, a nave chegou a estar a 408.950 km da cidade de Houston, lar dos astronautas. A distância média Terra-Lua é de 384 mil km.

A missão permaneceu em órbita da Lua até a madrugada do dia 24, quando o módulo lunar se separou, realizou o ensaio para o pouso e tornou a subir para reencontrar-se com o módulo de comando e serviço. O procedimento não foi sem emoção. Na hora de elevar sua altitude para o reencontro, durante a separação do estágio de descida, o veículo começou a girar fora de controle, e Stafford e Cernan trocaram vários palavrões até recobrarem o domínio sobre o veículo. A Nasa, na época, minimizou o incidente. Mas mais algumas piruetas e a missão se tornaria irrecuperável, condenando o módulo a uma indesejável colisão com a superfície lunar.

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É uma boa medida de como os americanos arriscaram um bocado para vencer a corrida espacial – mas todos os riscos estavam a apenas um passo de serem compensados.

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