Apollo 15 – A primeira do jipe
Em 1971, tivemos a estreia do veículo lunar e das estadias de longa duração.
Além das missões de tipo H (pouso de precisão) a Nasa imaginava conduzir as de tipo I, que envolviam a instalação de instrumentos de observação no módulo de serviço das naves, e as de tipo J, que, além dessas capacidades orbitais avançadas, permitiriam maiores estadias e mais mobilidade na superfície. A Apollo 15 seria a primeira viagem lunar com o perfil dos tipos I e J.
Em 26 de julho de 1971, o comandante David R. Scott (em seu terceiro e último voo) e os novatos pilotos do módulo de comando, Alfred M. Worden, e do módulo lunar, James B. Irwin, partiram rumo a uma região montanhosa da Lua, Hadley-Apennine, mais especificamente um vale a oeste dos Montes Apenninus e a leste da Rima Hadley, um sulco produzido por antigos processos vulcânicos na superfície lunar.
O lançamento transcorreu sem sobressaltos e, uma vez que a Apollo 15 já estava a caminho da Lua, o terceiro estágio do Saturn V foi direcionado a impactar contra o satélite natural, de forma a gerar um “selenomoto” (terremoto lunar) para os sismógrafos instalados nas missões Apollo 12 e 14. (O sismógrafo da Apollo 11 havia pifado em agosto de 1969.) O procedimento de impactar o terceiro estágio do Saturn V, por sinal, já havia sido realizado pela Apollo 13, no que foi o único resultado científico gerado pela missão na Lua.
Para as missões J, o módulo lunar estava mais pesado, o que exigia que parte da manobra de descida fosse realizada em conjunto com o módulo de comando e serviço, colocando-o numa órbita cujo ponto mais baixo estivesse a apenas cerca de 16 km da Lua. Dali, o Falcon (nome dado ao módulo lunar da Apollo 15) poderia se desprender do Endeavour e realizar uma alunissagem consumindo menos combustível.
O novo módulo lunar agora podia manter os astronautas na Lua com segurança por até três dias, o que permitiria a realização de três caminhadas. E o melhor de tudo: num compartimento externo, todo dobradinho, viajava um jipe, o Lunar Roving Vehicle (LRV). Movido a bateria, ele aumentaria muito o alcance da exploração conduzida pelos astronautas.
A alunissagem aconteceu em 30 de julho e, antes da primeira caminhada, Scott faria um procedimento novo: ele abriria a escotilha superior do Falcon (normalmente usada somente quando acoplado ao módulo de comando) e olharia de cima para os arredores, a fim de planejar melhor as viagens dos próximos três dias.
No começo da primeira caminhada, eles desceram e armaram o LRV para a primeira travessia lunar sobre rodas. Por alguma razão, as rodas da frente não queriam virar, mas as de trás, que também eram esterçáveis, deram conta. Scott e Irwin fizeram uma longa volta colhendo amostras e retornaram às proximidades do Falcon para instalar os instrumentos científicos. Passaram 6 horas e 32 minutos trabalhando.
Na segunda saída, eles passaram mais 7 horas e 12 minutos explorando, e desta vez, sem explicação, as rodas frontais do LRV resolveram cooperar. O objetivo era chegar ao Delta do Monte Hadley. As transmissões vindas da Lua indicavam que Scott e Irwin estavam se divertindo para valer. A última atividade do dia foi fincar a bandeira americana no solo.
Para o terceiro dia, 2 de agosto, mais 4 horas e 49 minutos do lado de fora do Falcon, com uma série de atividades. Scott carimbou selos para o correio americano e, diante da câmera, realizou um experimento soltando uma pena e um martelo da mesma altura, ao mesmo tempo, para verificar que, como predisse Galileu no século 17, ambos caíam com a mesma velocidade, a despeito de terem massas diferentes.
Os astronautas também deixaram uma placa memorial dedicada a todos os astronautas e cosmonautas que pereceram na corrida para a Lua e Scott deixou uma Bíblia sobre o painel do LRV, que permaneceria por lá após a partida deles. O odômetro marcou 27,9 km percorridos, com um total de 19 horas e 7 minutos de atividades extraveiculares, e pouco mais de 68 horas “morando” na Lua.
O retorno dos astronautas à Terra, com 77 kg de rochas, aconteceu em 7 de agosto, com um pequeno susto – um dos três paraquedas da cápsula falhou. Mas o pouso no oceano pôde ser feito em segurança com dois deles, concluindo com sucesso a primeira missão de longa duração em solo lunar.