Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Aprender a ler altera áreas do cérebro não associadas à linguagem

Adultos passaram por seis meses de alfabetização – ao final, regiões do cérebro sem relação direta com a linguagem ganharam mais conexões entre os neurônios

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 jun 2017, 16h59 - Publicado em 12 jun 2017, 16h58

Um fã de McDonald’s passeando em Nova York e o mais isolado dos aborígenes australianos têm algo em comum: ambos falam. Praticamente qualquer ser humano, em qualquer cultura do mundo, têm uma língua – mesmo que ela dependa das mãos, e não das cordas vocais, que é o caso das línguas de sinais.

Mesmo assim, há 793 milhões de analfabetos no mundo. Isso revela algo importante sobre o cérebro do Homo sapiens: ele vem de fábrica com um aparato biológico preparado para abrir a boca e falar – só. A escrita e a leitura são ferramentas criadas na Mesopotâmia há mais ou menos 6 mil anos, e que precisam ser aprendidas, na marra, por todas as crianças.  

Depois que aprendemos a ler, é claro, a cabeça entra no “automático” e nos esquecemos do perrengue que passamos na escola. Doce ilusão: interpretar sinais em qualquer uma das 662 fontes do Word continua sendo muito difícil do ponto de vista da computação. Prova disso são os famosos captchas – letras distorcidas que podem ser lidas por nós, mas não por vírus de computador.

Isso torna a leitura uma habilidade ótima para estudos científicos: ela não é inata, não vem “instalada”, mas é complicada o suficiente para alterar as ligações entre os neurônios e revelar detalhes e problemas do funcionamento do cérebro humano. 

Para entender como ler muda o cérebro, o pesquisador alemão Falk Huettig – psicólogo da linguagem no Instituto Max Planck – foi à Índia.

Continua após a publicidade

Lá, ele sua equipe selecionaram dois grupos de adultos analfabetos na faixa etária dos 30 anos. Eles foram separados com base em muitas variáveis socioeconômicas e biológicas – como gênero, salário, inteligência, mão de preferência (destro ou canhoto) e o número de pessoas também analfabetas que cada um tinha na família.

Era essencial que as cobaias fossem mais velhas – crianças têm um intelecto flexível demais e passam o dia descobrindo coisas novas. Seria impossível saber com precisão se as alterações verificadas no cérebro delas são resultado da alfabetização ou de outras lições recém-aprendidas sobre o mundo.

Antes do início da experiência, os voluntários foram passados em uma máquina de ressonância magnética, e a situação prévia do cérebro de cada um foi registrada como referência para as comparações posteriores. Depois, metade deles passou seis meses recebendo aulas de Devanagari – o sistema de escrita hindi –, e a outra metade não teve aulas.

Continua após a publicidade

Um semestre depois, todos passaram por ressonâncias novamente. E os que tinham dado os primeiros passos na alfabetização já exibiam alterações em partes específicas do cérebro. Uma delas era previsível: os neurônios ficaram mais ligadões no córtex cerebral, responsável pela memória, a atenção e (óbvio) a linguagem.

Outras mudanças não foram tão fáceis assim de prever: o número de conexões também aumentou em regiões mais profundas do cérebro, como o lobo occipital, responsável pelo processamento de imagens. Ainda não se sabe se essa é uma alteração que ocorre em qualquer processo de alfabetização  ou se está associada às características específicas do Devanagari – que é uma escrita alfabeto-silábica mais complexa visualmente que o alfabeto latino, com suas letras isoladas.

“Nunca havia sido demonstrado que essas estruturas profundas do cérebro, que do ponto de vista evolutivo são muito antigas, mudam fundamentalmente e se adaptam a essa nova habilidade – e que elas começam a se comunicar com eficiência com partes do córtex”, afirmou Huettig à Popular Science. O artigo científico está disponível aqui.

Prova de que, apesar de difícil, ainda é possível aprender habilidades complexas depois de adulto. E de que línguas diferentes talvez cobrem o cérebro de maneira diferente. “Nós ainda não sabemos se há uma espécie de rede nuclear, básica, que é ativada independente do sistema de escrita que está sendo adquirido”, explicou Huettig. “Mas há outras partes do cérebro que mudam. Por exemplo: se você aprender chinês, ativará mais o córtex direito – provavelmente por que os caracteres são muito mais complexos.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.