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Baleias azuis estão cada vez mais silenciosas – e isso é um problema

O silêncio é o sinal de uma crise: esses animais passam por dificuldades para encontrar comida. Afinal, quem quer cantar enquanto passa fome?

Por Manuela Mourão
Atualizado em 5 ago 2025, 19h02 - Publicado em 5 ago 2025, 19h00

Em 2003, o filme Procurando Nemo cunhou o idioma falado por baleias: o baleiês. Já passava da hora, afinal, os estudos sobre a comunicação dos grandes mamíferos iniciou-se na década de 1960 – e a conclusão das pesquisas é sempre a mesma: os bichos são tagarelas natos. 

A baleia azul, o maior animal do mundo, não escapa do tititi. Esses animais emitem vocalizações ao longo de todo o ano, produzindo sons característicos como pulsos, grunhidos e gemidos, geralmente na faixa de 15 a 40 Hz. Muitas vezes, esses sons são abaixo da audição humana, já que nós escutamos na faixa de 20 Hz a 20.000 Hz. Um som de 40 Hz, por exemplo, é como o som graves de um trovão distante. 

Por isso, os sons das baleias estão entre os mais graves e intensos do reino animal, podem alcançar níveis de até 189 dB subaquáticos. Seu repertório acústico inclui dois tipos principais: os cantos, formados por unidades longas e repetidas que podem se combinar em frases, e os chamados D calls, curtos e descendentes, usados irregularmente como forma de contato entre grupos. Os cantos apresentam variações geográficas que permitem diferenciar populações, enquanto os D calls não mostram diferenças regionais. 

A Super já explicou como funciona a comunicação entre baleias e a criação de suas frases, mais sobre você pode ler aqui.

O problema é que, nos últimos anos, esses sons vêm desaparecendo das profundezas oceânicas. 

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A mudança não veio de um dia para o outro. Em 2013, uma massa de água anormalmente quente — apelidada de The Blob — surgiu no Golfo do Alasca. Ela não se dissipou com as estações, como aconteceria com uma massa comum. Em vez disso, expandiu-se e atingiu temperaturas até 4,5°C acima do normal.

Em pouco tempo, espalhou-se por milhares de quilômetros, alterando a química marinha e dizimando populações de krill, o alimento essencial das baleias-azuis.

Monitoramentos acústicos de longo prazo revelaram um padrão: durante esses anos de aquecimento extremo, as vocalizações caíram quase 40%. “É como tentar cantar enquanto você está faminto”, explica John Ryan, oceanógrafo do Monterey Bay Aquarium Research Institute, para a National Geographic. “As baleias estavam ocupadas demais procurando comida para gastar energia em seus cantos.”

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A mudança dos cantos foi documentada em um estudo publicado este ano. Nele, Ryan e sua equipe mostraram que as músicas das baleias azuis foram detectadas com menos frequência do que anos antes.

Mas o impacto vai além da fome. A diminuição nas vocalizações não indica apenas dificuldades alimentares, mas também queda na atividade reprodutiva.

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O fenômeno não se limitou à Califórnia. Na Nova Zelândia, pesquisadores registraram um padrão semelhante entre 2016 e 2018. As águas no estreito de South Taranaki Bight estavam anormalmente quentes. O resultado foi o mesmo: menos alimentação, menos cantos, menos atividade reprodutiva.

E esse estresse pode estar longe de acabar. Estudos mostram que a frequência e intensidade das ondas de calor marinhas triplicaram desde a década de 1940. Com o aquecimento global acelerado, eventos como The Blob podem se tornar mais comuns — e mais duradouros.

O silêncio é, para os cientistas, mais do que a ausência de som. É um alerta. “As baleias-azuis funcionam como sentinelas do oceano”, diz Dawn Barlow, ecóloga do Marine Mammal Institute, também à NatGeo. “Quando elas param de cantar, é porque algo está profundamente errado no ecossistema.”

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“A poluição sonora que causamos nos oceanos está forçando as baleias a mudar seus cantos ou até a silenciar completamente. As baleias estão falando com a gente, mesmo que caladas – e nós estamos ignorando”, diz David Farrier, professor da Universidade de Edimburgo e autor do livro Nature’s Genius, para a Super

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