Baleias e golfinhos conversam e têm até dialetos locais
Além disso, eles também são capazes de chamar seus vizinhos pelo nome. Tudo isso, graças a um cérebro superdesenvolvido
Aquela história de que as baleias têm um idioma próprio não é só papo do filme Procurando Nemo. Graças ao tal do “baleiês”, elas conseguem manter papos entre si, chamar as amigas pelo nome, e até mesmo desenvolver dialetos locais. Para os golfinhos, outros representantes ilustres da ordem dos cetáceos, a dinâmica é meio parecida. Além de possuírem amigos próximos, eles podem marcar de sair em bando para brincar, como uma boa trupe — graças à sua grande inteligência comunicativa.
Habilidades desse tipo já foram estudadas anteriormente pelos cientistas, e indicam a capacidade sofisticada desses bichos de se relacionar em grupo. E um novo estudo, publicado no jornal Nature Ecology and Evolution, mostra que a chamada hipótese do cérebro social se aplica perfeitamente a eles. Isso quer dizer que sua complexidade cultural pode ser explicada pelo tamanho da cachola: quanto mais desenvolvida, mais parecidas com as humanas são as suas relações.
“A habilidade humana de interagir com o outro e cultivar relacionamentos nos permitiu colonizar quase todos os ecossistemas e ambientes do planetas. Nós sabemos que baleias e golfinhos também possuem um cérebro surpreendentemente grande e sofisticado e, por conta disso, criaram uma cultura similar para si nos oceanos”, explica Susanne Shultz, que liderou o estudo, em comunicado.
A pesquisa envolveu cientistas da Inglaterra, Estados Unidos e Canadá, e coletou informações de 90 espécies diferentes de golfinhos, botos e baleias. Os dados comportamentais mostraram uma semelhança impressionante com hábitos que você e eu costumamos manter no dia-a-dia. “Infelizmente, eles não vivem em metrópoles como as nossas nem criam novas tecnologias, porque não evoluíram com um polegar opositor”, brinca Shultz.
A ideia de trabalho em equipe aparece nas caçadas coletivas que eles costumam fazer. Do mesmo jeito que você aprende com alguém a usar o computador, por exemplo, os cetáceos também compartilham conhecimento de campo uns com os outros. Além disso, eles mostraram utilizar vozes específicas para se referir a cada colega — como se chamassem o outro por seu nome próprio. Toda essa habilidade vocal torna possível o surgimento de dialetos, jeitos de falar específicos de certos grupos ou regiões.
Sua consciência social é tão grande que eles também têm o costume de cuidar das crias dos compadres e sair em bando para brincar, só por diversão. E o mais impressionante: aqueles indivíduos encontrados sozinhos ou em grupos pequenos na maior parte do tempo, costumam ter cérebro menor que os outros — o que demonstra a importância do coletivo em seu desenvolvimento. As espécies com cérebro maior (como a falsa-orca e a baleia-piloto), por outro lado, vivem em sociedades mais estruturadas e aprendem mais com seus vizinhos.
“Nosso estudo reforça essa ideia de que a riqueza de relações sociais de uma espécie pode ser estimada pelo tamanho de seu cérebro”, diz Schultz, em artigo para o site The Conversation. O fato de descobrirmos isso em um grupo independente de animais, tão diferente dos primatas, torna tudo ainda mais relevante”.