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Beija-flores podem baixar suas temperaturas para menos de 4 ºC

Durante a noite, aves que vivem na Cordilheira dos Andes entram em estado de torpor para economizar energia e sobreviver ao ambiente extremo.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 9 set 2020, 15h38 - Publicado em 9 set 2020, 15h36

Os beija-flores são animais curiosos, que podem bater as asas 200 vezes por segundo e voar a uma velocidade de 80 km/h. Tais esforços requerem muita energia, o que faz com que as aves bebam, por dia, o equivalente ao seu próprio peso em néctar. No entanto, para os beija-flores que vivem na Cordilheira dos Andes, só a alimentação reforçada não basta: esses devem resfriar seus corpos em até 30 ºC durante a noite para poupar energia, entrando em estado de torpor. 

Torpor e hibernação são estados diferentes. O primeiro ocorre por períodos curtos, pontualmente, quando o metabolismo do animal desacelera e ele se adapta a um ambiente extremo. Já a hibernação, como ocorre com ursos, pode se estender por vários meses, sem interrupções.

Mas voltemos aos colibris. Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (9), na revista científica Biology Letters, mostrou as menores temperaturas corporais já registradas para a ave. Os beija-flores sul americanos da espécie Metallura phoebe, por exemplo, alcançaram a impressionante marca de 3,3 ºC durante a noite. 

As medições foram feitas em 2015, quando os pesquisadores juntaram em cativeiro 26 beija-flores de diferentes espécies para monitorar seus comportamentos noturnos. O Metallura phoebe, citado acima, mantinha-se em baixas temperaturas por cerca de dez horas, enquanto os outros passavam pouco menos de seis horas em estado de torpor. Ao acordar no dia seguinte, todos rapidamente recuperavam o calor do corpo e voltavam a média de 35 ºC.

Na maioria das espécies de colibris analisadas, as temperaturas em torpor variavam entre 5 ºC e 10 ºC. Neste estado, o coração das aves que bate, em média, de 1 a 1,2 mil vezes por minuto durante o voo, caiam para 50 batidas por minuto. Os cientistas explicam que os beija-flores em torpor podem ser facilmente confundidos com animais mortos. 

Há ainda outros estudos a serem feitos para elucidar algumas questões, como a possibilidade dos beija-flores de realmente hibernarem. Essa é uma hipótese dos pesquisadores baseada em histórias de que algumas aves dos Andes já foram vistas entrando e se mantendo em cavernas em épocas de frio. Não há nenhuma comprovação, mas este é um indício de que os beija-flores poderiam economizar sua energia por períodos maiores de tempo, e não apenas por uma noite. A única espécie de pássaro conhecida por hibernar é o Noitibó-de-nuttall, uma pequena ave que habita o Colorado, nos EUA, e algumas florestas temperadas no Canadá.

Estudar os colibris pode ainda trazer vantagens para os humanos. Os pássaros enfrentam uma queda de temperatura corporal de 10 ºC a 30 ºC de forma natural. O homem, ao apresentar baixa de 2 ºC, já está em estado de hipotermia. O professor da Universidade de Pretória (África do Sul) e co-autor do estudo, Andrew McKechnie, explicou como o mecanismo poderia ser explorado e aplicado em viagens espaciais: “Em um estágio, a Nasa estava se perguntando seriamente se seria possível induzir um estado de torpor ou de hibernação em humanos, a fim de ir além da vizinhança terrestre”, disse.

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