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Chimpanzés se saem melhor em testes difíceis quando há uma plateia observando

Estudo descobre que “efeito do espectador” não é exclusivo dos humanos e pode ter evoluído antes entre os primatas.

Por Bruno Carbinatto
10 nov 2024, 16h00

Quando estamos sendo observados ao fazer alguma tarefa, nós, humanos, agimos de maneira diferente do que quando estamos sozinhos. A presença de uma plateia pode, muitas vezes, melhorar nosso desempenho ao dar incentivos para agirmos melhor – algo chamado pela psicologia de “facilitação social”. Outras vezes, a pressão pode causar nervosismo e piorar o resultado (inibição social).

Coletivamente, esses fenômenos são conhecidos como “efeito plateia”, “efeito espectador” ou “efeito audiência”, e já são velhos conhecidos da ciência. Agora, um novo estudo mostrou que a mesma regra vale para os chimpanzés, nossos primos evolutivos.

Não se sabia até então se o fato de se importar com os espectadores era algo inerentemente humano – afinal, nossa espécie vive em uma sociedade que valoriza bastante a reputação e o prestígio social, ou seja, nós nos importamos com o que os outros pensam. Outras espécies animais, é claro, também são sociais, mas não dá para saber até que ponto elas são parecidas conosco quando o assunto é efeito plateia.

Cientistas da Universidade de Kyoto, no Japão, colocaram a questão à prova com seis chimpanzés que vivem na faculdade. Ao longo de seis anos, esses animais foram testados em experimentos simples, em que deveriam apertar números numa tela.

Havia três versões de dificuldade do teste: na primeira, mais fácil, os chimpanzés tinham apenas que clicar nos números numa sequência crescente: 1, 2, 3, 4, 5… 

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Na dificuldade média, os números eram aleatórios (1, 5, 12, 17, 24…), e os bichos tinham que selecionar do menor para o maior. 

Por fim, na prova mais difícil, os chimpanzés olhavam para os números por um tempo, e depois eles eram tampados. Ou seja, além de escolher os números na ordem crescente, precisam se lembrar onde estava cada número na tela.

Foram milhares de aplicações do teste ao longo de seis anos, e, em cada sessão, os pesquisadores variavam o tamanho da plateia: de só um observador até oito pessoas presentes. Algumas vezes, os espectadores eram conhecidos dos chimpanzés; outras, estranhos.

Analisando todos os resultados, a equipe descobriu que os seis chimpanzés tinham um desempenho melhor nas tarefas difíceis quando eram observados por mais pessoas – quanto maior a plateia, melhor o resultado.

Curiosamente, nas tarefas fáceis, o inverso ocorria: chimpanzés se davam mal quando muita gente estava na audiência.

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Os cientistas ainda não sabem explicar bem o porquê dessa diferença. Uma possibilidade é que, nas tarefas fáceis, a presença dos humanos acabe funcionando como uma distração, levando os chimpanzés a cometer mais erros. Já nos testes difíceis, podem pressionar o chimpanzé a ter um resultado maior. Novos estudos, porém, devem ser feitos para entender os mecanismos por trás dos resultados.

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De qualquer forma, a demonstração de que o desempenho melhora nas tarefas difíceis também entre os chimpanzés surpreendeu. “Pode-se pensar que um chimpanzé não se importe se outra espécie está observando-o ao realizar alguma tarefa, mas o fato de que eles parecem ser afetados por espectadores humanos, mesmo que dependa da dificuldade da tarefa, sugere que essa relação é mais complexa do que esperávamos inicialmente”, diz Christen Lin, líder do estudo.

“Nossas descobertas sugerem que o comportamento de se importar com espectadores e com a plateia pode não ser algo tão específico da nossa espécie”, complementa Shinya Yamamoto, pesquisador que também participou do estudo. “Essas características são uma parte essencial de como nossas sociedades são amplamente baseadas na reputação, e se os chimpanzés também prestam atenção especial aos membros da audiência enquanto realizam suas tarefas, é lógico que essas características podem ter evoluído antes que as sociedades baseadas em reputação surgissem na nossa linhagem de grandes primatas.”

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