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Cientistas criam embriões de ovelha com células humanas

O embrião era apenas 0,001% humano, e não passou da quarta semana. Mas abre caminho para criar, dentro de animais, órgãos humanos para transplante

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
20 fev 2018, 15h18

Em setembro do ano passado, 32 mil brasileiros estavam na fila de espera para um transplante. Os que conseguirem um rim ou coração novo terão pela frente outro desafio: a rejeição. É comum que o sistema imunológico do paciente não reaja bem à novidade, e ataque o órgão recém-implantado. No mundo ideal, seria possível produzir órgãos sob medida para cada paciente, construídos a partir de suas próprias células. A solução eliminaria, de uma vez só, o problema da fila e o da rejeição.

Uma maneira teórica de produzir esses órgãos sobressalentes (de “reposição”) é usar animais. Primeiro, o cientista editaria o DNA de um porco ou ovelha nos primeiros estágios de formação. Ele tiraria as instruções genéticas que seriam usadas, ao longo da gestação, para montar um rim ou um pâncreas do animal, e colocaria, no lugar, células tronco humanas. Essas células se desenvolveriam de forma idêntica ao que acontece em nós. O organismo do animal não rejeitaria as nossas células porque o processo ocorreria antes da formação de seu sistema imunológico. Dessa forma, nasceria um porco ou ovelha com um órgão humano, que carrega o mesmo DNA do paciente que precisa do transplante.

Isso ainda está longe da realidade. Mas no ano passado já descobrimos que porquinhos são, sim, capazes de crescer sem problemas carregando algumas células humanas. Agora, o mesmo foi provado para ovelhas – a descoberta foi anunciada na semana passada em um congresso da Associação Americana para o Avanço da Ciência, e logo será publicada em forma de artigo científico.

É bom reforçar: o objetivo desse teste ainda não era montar um embrião de ovelha com um órgão humano específico, preparado para doação. Os cientistas só queriam saber se o cordeirinho se desenvolve corretamente quando uma parcela de suas células (no caso, 0,0001%) é humana – um passo intermediário essencial para saber se a técnica é mesmo viável e se vale a pena continuar investindo nela. Os embriões usados no experimento se desenvolveram fora do útero, só até a quarta semana, e depois foram descartados.

“A contribuição das células humanas, até agora, é muito pequena. Não vai nascer um porco com rosto de gente ou uma ovelha com cérebro humano”, afirmou em uma coletiva de imprensa Hiro Nakauchi, pesquisador da Universidade Stanford e um dos autores da pesquisa. Os pesquisadores têm como controlar, até certo ponto, quais células do embrião darão origem a diferentes partes do corpo do animal adulto, e podem garantir que as de origem humana não formem órgãos delicados do ponto de vista ético.

“Todas essas abordagens são controversas, e nenhuma delas é perfeita, mas elas são uma esperança para pessoas que estão morrendo todos os dias [por falta de órgãos]”, afirmou à National Geographic Pablo Ross, da Universidade da Califórnia, que também participou da experiência. “Precisamos explorar todas as alternativas possíveis para prover órgãos a pacientes.”

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