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Cientistas descobrem por que cachorros se sacodem quando estão molhados

Pode parecer só uma sacudida inofensiva, mas há uma rede neural complexa por trás do chacoalhar dos cães (e outros mamíferos peludos).

Por Eduardo Lima
14 nov 2024, 16h00

Os cachorros adoram se sacudir quando estão molhados. Não, não é um plano maligno para te molhar. Na verdade, essa técnica para se secar é compartilhada por vários mamíferos peludos – ratos, esquilos, leões, tigres, ursos e até gatos.

A chacoalhada que os mamíferos dão no esqueleto não ajuda só a se secar, mas também a remover insetos e outras coisas que possam estar irritando os animais de lugares difíceis de alcançar.

O que está por trás das sacudidas é um mecanismo neurológico complexo que os cientistas não conseguiam entender muito bem – até agora.

Pesquisadores da Universidade Harvard investigaram o circuito neural que leva os mamíferos a se sacudir examinando esse mesmo comportamento em camundongos molhados. Para a dança esquisita rolar, uma classe específica de receptores de tato e neurônios que conectam a medula espinhal ao cérebro são ativados. O estudo que descreve a descoberta foi publicado na revista Science.

Gota de água ou de ácido?

A pele dos mamíferos peludos tem mais de 12 tipos de neurônios sensoriais, cada um específico para receber e interpretar sensações diferentes. Um desses tipos de receptores, que foi o foco da pesquisa sobre as sacudidas animais, são os mecanorreceptores de baixo limiar de fibra-C (a sigla em inglês, e um jeito mais fácil de se referir a eles, é C-LMTRs).

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Esses receptores de toque dos mamíferos – que ficam em volta dos folículos de cabelo – são complexos a ponto de distinguir entre uma gota de água, um inseto e o toque gentil de outro animal. Nos humanos, os mesmos receptores servem para sentir toques prazerosos, como um abraço. Nos outros mamíferos, eles servem principalmente para proteção, alertando sobre a presença de algo estranho na pele.

Para realizar o experimento, os pesquisadores aplicaram gotas de óleo de girassol na nuca dos camundongos. Quase todos os animais se sacudiram para se livrar das gotas num intervalo de dez segundos. 

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A próxima parte do experimento envolveu alterar geneticamente os camundongos para tirar os genes responsáveis por codificar os receptores C-LMTRs deles. Os animais geneticamente modificados apresentaram uma redução de 50% nas sacudidas em comparação com os outros que continuavam com os mecanorreceptores.

Os cientistas também descobriram o caminho que a informação dos mecanorreceptores percorre até chegar no cérebro. Eles passam por neurônios na medula espinhal, que vão até o núcleo parabraquial do cérebro. Essa é a área responsável por processar dor, temperaturas e sensações. Ao bloquear a atividade desses neurônios, as sacudidas diminuíram em 58%.

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Outra etapa realizada pelos pesquisadores foi eliminar dos camundongos o gene Piezo2, que controla os canais de íons envolvidos na sensação de toque.  Deu certo: eles também chacoalharam menos.

Ou seja: uma única sacudida para se secar envolve todo esse sistema complexo.

Sabe o que mais faz os animais chacoalhar assim? Drogas psicodélicas. Outros estudos já relacionaram o comportamento a substâncias que envolvem receptores de serotonina, que também tem um papel nos toques prazerosos. Futuras pesquisas podem ajudar a conectar as duas descobertas.

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