Cientistas transformam ratos altruístas em psicopatas
O próprio altruísmo roedor é uma novidade. A transformação deles em seres desprovidos de empatia também.
Ratinhos de laboratório surpreenderam cientistas na última semana. Uma pesquisa feita no Instituto Holandês de Neurociência mostra que esses animais podem ser tão altruístas quanto humanos: eles evitam colocar seus companheiros em risco em determinadas situações.
A pesquisa aconteceu assim: 24 ratos (machos e fêmeas) foram apresentados a duas alavancas. Quando puxavam qualquer uma delas, ganhavam um petisco. Depois de algumas repetições, os ratos tendiam a escolher uma alavanca favorita. Não que ela fornecesse mais comida, era só uma questão de preferência mesmo.
Foi aí que os cientistas reverteram o cenário. Numa segunda situação, quando o bichinho fosse na alavanca favorita, seu amigo do lado levaria um leve choque. Alguns deles, porém, pareciam sensíveis ao sofrimento alheio. Nove ratinhos pararam de puxar a alavanca favorita e voltaram a focar na outra, que também oferecia recompensas, mas não causava choque no coleguinha.
Só que nem tudo são flores. Alguns ratos foram corrompidos depois de um tempo. Eles passaram a receber três petiscos quando puxavam a alavanca que dava choque. Aí a empatia foi embora.
O estudo não parou por aí. Os pesquisadores decidiram anestesiar o córtex cingulado anterior (CCA) dos ratos mais empáticos. Sabe-se que humanos que sofrem de transtornos antisociais (psicopatia) têm essa parte do cérebro danificada. Só não dá para cravar se essa é a única característica torta no cérebro de um psicopata.
A pesquisa, de qualquer forma, indica que o papel do CCA na sociopatia é enorme: ao terem essa parte do cérebro “desativada” os ratinhos deixaram de se importar com a integridade dos outros ratos.
Outra conclusão do estudo é a de que, se há componentes nítidos de empatia nos ratos, é fato que esse traço está envolvido em toda a história evolutiva dos mamíferos. Nosso ancestral comum com os roedores viveu há 93 milhões de anos. Logo, esse comportamento é no mínimo tão antigo quanto esse ser ancestral. Mas só quando a recompensa pelo sofrimento do outro não for boa o bastante.