Cientistas treinam abelhas para farejar Covid-19
Os insetos treinados na Holanda já conseguem identificar fluidos corporais de pessoas infectadas pelo coronavírus. A habilidade poderia agilizar o diagnóstico ou identificar partículas contaminadas no ambiente.
Pesquisadores da Universidade de Wageningen, na Holanda, têm treinado abelhas em laboratório para detectar amostras de animais com Covid-19. O estudo utilizou fluidos corporais de visons (mamíferos parentes das doninhas) e humanos, saudáveis ou contaminados pelo Sars-Cov-2. Segundo a universidade, mais de 150 abelhas foram treinadas para diferenciar a amostra contaminada da saudável.
A Covid-19, como outras doenças, causa alterações metabólicas no organismo que se manifestam no odor dos fluidos corporais. Humanos não possuem um olfato sensível o suficiente para detectá-los – mas outros animais, como os cães, dão conta do trabalho. Em um estudo realizado na Alemanha, oito cachorros treinados conseguiram identificar corretamente as amostras de Covid-19 em 94% dos casos.
Os cientistas holandeses, em parceria com a startup InsectSense, queriam ver se o mesmo valeria para as abelhas. Elas conseguem encontrar flores a quilômetros de distância, e também foram eficientes em identificar a Covid-19.
Todas as vezes que as abelhas eram expostas a uma amostra contaminada, os pesquisadores ofereciam uma solução de água com açúcar, e os insetos esticavam a língua para bebê-la (veja na foto abaixo). Quando os insetos eram expostos a amostras saudáveis, os cientistas não ofereciam nada.
Após algumas repetições do processo, algumas abelhas começaram a esticar a língua antes de receber o néctar, apenas ao sentir o cheiro das amostras de visons contaminados. Esses mamíferos foram escolhidos por serem suscetíveis à infecção pelo vírus. Eles são criados em fazendas da Europa e sua pele geralmente é utilizada para a produção de casacos. No entanto, casos de Covid-19 foram registrados em visons da França, Holanda, Espanha e outros países europeus. A Dinamarca, por exemplo, decidiu sacrificar todos os 17 milhões de animais criados no país para evitar o surgimento de novas variantes do coronavírus.
Após os primeiros testes com visons, os pesquisadores passaram a usar amostras humanas (possivelmente de suor; a universidade não revelou exatamente o que foi usado) nos testes, que também apresentaram resultados positivos. Segundo a equipe, o método poderia ser utilizado como uma forma de detecção imediata em locais com poucos recursos ou que não possuem laboratórios para realizar o teste RT-PCR, considerado o padrão-ouro para o diagnóstico da Covid-19.
É provável que as abelhas não substituam os testes tradicionais na maioria dos lugares, mas também podem agilizar o processo. Enquanto um teste PCR pode levar dias para ficar pronto, as abelhas detectam o cheiro segundos. Elas permanecem presas dentro de caixas e só precisam de um cotonete contaminado para esticar a língua. Se esse teste preliminar for positivo, o paciente já pode permanecer em quarentena enquanto aguarda pela confirmação do PCR.
A quantidade de falsos-positivos e falsos-negativos das abelhas ainda não foi divulgada pelos pesquisadores – algo que é essencial para determinar a confiabilidade do método.
Os pesquisadores também estão trabalhando no protótipo de uma máquina capaz de treinar muitas abelhas de uma vez só. Basicamente, o que ela faz é automatizar o processo de expor as abelhas às amostras e ao néctar em seguida. Esses insetos poderiam ser soltos das caixas para detectar partículas de coronavírus presentes no ar de um determinado local. No entanto, esse método ainda não foi testado.