Cobrar por sacolinhas nos mercados aumenta venda de sacos de lixo
Os consumidores até passam a usar ecobags, mas a compra de saquinhos para lixeiras aumenta tanto que praticamente cancela o efeito ambiental benéfico da medida.
Quem vai ao mercado conhece a regra: se você não levar sua própria sacola, tem que pagar por uma de plástico. Isso porque, em vários lugares do Brasil, para evitar o uso indiscriminado dos saquinhos, há leis relativamente recentes que permitem aos estabelecimentos cobrar por eles.
Novas evidências, porém, mostram que a cobrança, quando adotada em outras partes do mundo, teve o efeito contrário.
Um estudo recente sobre as políticas de restrição ao uso de sacolas plásticas no sul dos EUA revelou que, embora a intenção fosse reduzir o impacto ambiental, os comportamentos que essa norma tentou evitar persistiram ou até pioraram após a adoção da medida.
Os pesquisadores, liderados pelo professor Hai Che da Universidade da Califórnia em Riverside, descobriram que, após certas cidades proibirem a distribuição gratuita de sacolas plásticas nos estabelecimentos comerciais, a demanda por sacos de lixo aumentou.
Além disso, essa demanda não voltou a cair mesmo em lugares em que a cobrança nos mercados foi revogada: uma vez adquirido o hábito de se comprar sacos de lixo, é muito difícil a população abandoná-lo. O artigo foi publicado no Journal of Marketing Research.
Por exemplo, em Dallas, a cidade impôs uma taxa de 5 centavos de dólar por sacola plástica descartável ao longo de cinco meses, em 2015, antes de revogar a medida devido a processos judiciais de fabricantes de sacolas. Após a revogação, as vendas das sacolinhas diminuíram abruptamente, mas voltaram aos níveis anteriores após 13 meses.
Já em Austin, onde houve uma proibição das sacolas plásticas entre 2013 e 2018, os efeitos da política persistiram por 18 meses após sua revogação, com as vendas de sacolas ainda 38,6% superiores aos níveis pré-políticas ao final do estudo.
“Esperávamos efeitos colaterais positivos, como clientes mais conscientes do ponto de vista ambiental e que consomem menos produtos de plástico ou papel descartáveis”, disse Che, em release da universidade. “Mas não foi isso que aconteceu nos dados. As pessoas acabaram comprando mais plástico.”
Para avaliar o impacto ambiental, os pesquisadores realizaram uma “análise de ponto de equilíbrio”, que calculou quantas sacolas plásticas descartáveis os consumidores precisariam deixar de usar para compensar o aumento na compra de sacos de lixo gerado pela política. Isso ajudou a determinar se, no final das contas, as políticas realmente resultaram na redução do desperdício de plástico.
“O efeito na poupança dos sacos de plástico é positivo, mesmo após a revogação. Seriam necessárias apenas reduções modestas no uso de sacolas de compras para atingir o ponto de equilíbrio, sugerindo um resultado favorável para o meio ambiente”, escrevem os autores na pesquisa.
Apesar disso, as políticas de restrição provavelmente também causaram mudanças positivas no comportamento dos consumidores, como a adoção de sacolas reutilizáveis de tecido para as compras do dia a dia, embora esses dados não estivessem disponíveis para os pesquisadores.
“Embora o nosso estudo se tenha centrado nos sacos de plástico, efeitos colaterais semelhantes foram documentados em políticas que visam bebidas açucaradas, eficiência energética e incentivos à saúde”, disse Che.
“Em cada caso, os comportamentos que não foram diretamente visados pela política – como comprar mais produtos açucarados quando os refrigerantes são tributados – podem compensar ou mesmo minar os objetivos principais da política.”