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Cobrar por sacolinhas nos mercados aumenta venda de sacos de lixo

Os consumidores até passam a usar ecobags, mas a compra de saquinhos para lixeiras aumenta tanto que praticamente cancela o efeito ambiental benéfico da medida.

Por Manuela Mourão
20 nov 2024, 18h00

Quem vai ao mercado conhece a regra: se você não levar sua própria sacola, tem que pagar por uma de plástico. Isso porque, em vários lugares do Brasil, para evitar o uso indiscriminado dos saquinhos, há leis relativamente recentes que permitem aos estabelecimentos cobrar por eles. 

Novas evidências, porém, mostram que a cobrança, quando adotada em outras partes do mundo, teve o efeito contrário. 

Um estudo recente sobre as políticas de restrição ao uso de sacolas plásticas no sul dos EUA revelou que, embora a intenção fosse reduzir o impacto ambiental, os comportamentos que essa norma tentou evitar persistiram ou até pioraram após a adoção da medida.

Os pesquisadores, liderados pelo professor Hai Che da Universidade da Califórnia em Riverside, descobriram que, após certas cidades proibirem a distribuição gratuita de sacolas plásticas nos estabelecimentos comerciais, a demanda por sacos de lixo aumentou.

Além disso, essa demanda não voltou a cair mesmo em lugares em que a cobrança nos mercados foi revogada: uma vez adquirido o hábito de se comprar sacos de lixo, é muito difícil a população abandoná-lo. O artigo foi publicado no Journal of Marketing Research

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Por exemplo, em Dallas, a cidade impôs uma taxa de 5 centavos de dólar por sacola plástica descartável ao longo de cinco meses, em 2015, antes de revogar a medida devido a processos judiciais de fabricantes de sacolas. Após a revogação, as vendas das sacolinhas diminuíram abruptamente, mas voltaram aos níveis anteriores após 13 meses.

Já em Austin, onde houve uma proibição das sacolas plásticas entre 2013 e 2018, os efeitos da política persistiram por 18 meses após sua revogação, com as vendas de sacolas ainda 38,6% superiores aos níveis pré-políticas ao final do estudo.

“Esperávamos efeitos colaterais positivos, como clientes mais conscientes do ponto de vista ambiental e que consomem menos produtos de plástico ou papel descartáveis”, disse Che, em release da universidade. “Mas não foi isso que aconteceu nos dados. As pessoas acabaram comprando mais plástico.”

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Para avaliar o impacto ambiental, os pesquisadores realizaram uma “análise de ponto de equilíbrio”, que calculou quantas sacolas plásticas descartáveis os consumidores precisariam deixar de usar para compensar o aumento na compra de sacos de lixo gerado pela política. Isso ajudou a determinar se, no final das contas, as políticas realmente resultaram na redução do desperdício de plástico.

“O efeito na poupança dos sacos de plástico é positivo, mesmo após a revogação. Seriam necessárias apenas reduções modestas no uso de sacolas de compras para atingir o ponto de equilíbrio, sugerindo um resultado favorável para o meio ambiente”, escrevem os autores na pesquisa.

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Apesar disso, as políticas de restrição provavelmente também causaram mudanças positivas no comportamento dos consumidores, como a adoção de sacolas reutilizáveis de tecido para as compras do dia a dia, embora esses dados não estivessem disponíveis para os pesquisadores. 

“Embora o nosso estudo se tenha centrado nos sacos de plástico, efeitos colaterais semelhantes foram documentados em políticas que visam bebidas açucaradas, eficiência energética e incentivos à saúde”, disse Che.

“Em cada caso, os comportamentos que não foram diretamente visados ​​pela política – como comprar mais produtos açucarados quando os refrigerantes são tributados – podem compensar ou mesmo minar os objetivos principais da política.”

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