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Cogumelos evoluíram para produzir molécula psicodélica. Duas vezes.

Pelo menos dois grupos de fungos desenvolveram a psilocibina – substância responsável pelas “trips” – de forma independente. Ainda não se sabe o porquê.

Por Maria Clara Rossini
22 out 2025, 16h00

Visuais alterados, sensibilidade aumentada, descarga de serotonina e um mergulho para dentro da mente. Esses são alguns dos efeitos sentidos por quem ingere cogumelos psicodélicos, mais conhecidos como “mágicos”. Eles produzem uma substância chamada psilocibina, que se liga aos receptores 5-HT2 do cérebro humano e desencadeiam a ação psicoativa. 

Não sabemos ao certo por que os cogumelos mágicos evoluíram para produzir psilocibina. Mas sabemos que essa substância confere alguma vantagem. Uma evidência disso é que ela evoluiu separadamente em mais de um gênero de cogumelos. Um grupo de cientistas alemães revelou como dois gêneros distantes entre si produzem a psilocibina, em um estudo publicado no periódico Angewandte Chemie International Edition.

O principal gênero de cogumelos produtores de psilocibina é o Psilocybe. Diversas espécies desse grupo, como Psilocybe cubensis, Psilocybe semilanceata e Psilocybe mexicana, fabricam a molécula no próprio organismo. Enquanto isso, cerca de seis espécies do gênero Inocybe também têm psilocibina, como é o caso do Inocybe aeruginascens. Esses foram os dois gêneros analisados no estudo.

A grande surpresa foi que esses dois gêneros produzem psilocibina de formas diferentes – que indica que a molécula surgiu pelo menos duas vezes na árvore evolutiva, independentemente. “A descoberta nos lembra que a natureza encontra mais de uma maneira de produzir moléculas importantes”, disse Dirk Hoffmeister, um dos autores do estudo, ao The New York Times

Não só isso: a descoberta também aponta um possível novo caminho para sintetizar psilocibina em laboratório. A molécula vem sendo estudada para o tratamento de transtornos como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), entre outros. (Leia mais sobre o potencial terapêutico dos psicodélicos aqui).

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Alguns pesquisadores já haviam proposto que, talvez, a molécula tivesse surgido em diferentes gêneros por evolução convergente – isto é, quando diferentes espécies ancestrais aparecem com a mesma solução para uma pressão evolutiva. A maneira de chegar na solução (nesse caso, a fabricação de psilocibina) pode ser diferente. 

A nova pesquisa soma um ponto positivo a essa ideia. O Psilocybe e o Inocybe partem do mesmo aminoácido para produzir a psilocibina, mas usam rotas químicas diferentes. Veja o gráfico abaixo, produzido pelos autores do estudo:

Gráfico da produçaõ dos cogumelos.
(Tim Schäfer/Fabian Haun/Dr. Bernhard Rupp/Prof. Dr. Dirk Hoffmeister/Reprodução)
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No meio do caminho, as duas rotas de síntese produzem um intermediário comum: a 4-hidroxitriptamina. Imagine duas pessoas que saem de São Paulo com destino a Belém. Uma vai por leste e outra por oeste, mas no meio do caminho elas se encontram em Brasília para tomar um café. E aí seguem viagem.

O estudo não explica por que os cogumelos evoluíram para produzir psilocibina. Mas é provável que a substância não seja um acidente evolutivo, e sim uma solução para algum desafio no mundo dos fungos – ela poderia ajudar na dispersão de esporos ou intoxicar possíveis predadores, por exemplo. A função exata da molécula responsável pelas trips permanece um mistério.

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