Cometa trouxe dados sobre sistema Solar
O que foi possível descobrir com a observação do choque do cometa Shoemaker-Levy com o planeta Júpiter, ocorrido na metade do mês de julho?
Os astrônomos ainda estão estudando os dados fornecidos pelas observações da colisão e boa parte dos resultados só será divulgada em congressos que devem ocorrer em 1995. Mas já foi possível chegar a algumas conclusões sobre o choque dos cerca de 20 fragmentos do Shoemaker-Levy. “Nós conseguimos detectar a presença de lítio na composição química do cometa”, diz o pesquisador Amaury A. de Almeida que fez parte do grupo de observação do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo. Até hoje esse elemento químico não havia sido encontrado em um cometa. “Essa informação é muito importante”, diz Almeida. “Como os cometas surgiram há 4,6 bilhões de anos, na mesma época da formação do Sistema Solar, será possível conhecer um pouco mais a composição original do Sistema”. Foi também possível detectar a presença de metano e hidrogênio, entre outros elementos, na atmosfera de Júpiter. Esse dado já era conhecido e os astrônomos puderam confirmá-lo.
Com a observação do choque, pretendia-se esclarecer uma dúvida: se o Shoemaker-Levy era realmente um cometa ou um asteróide. A principal diferença entre eles é que o núcleo do cometa é formado por cerca de 85% de água, na forma de gelo, e o asteróide tem uma constituição rochosa e, portanto, muito mais rígida.
Se fosse detectada a presença de moléculas formadas por um átomo de oxigênio e um de hidrogênio, o principal componente da água, no Shoemaker-Levy seria possível afirmar que ele era um cometa. Mas não se achou nada de água por lá.
“Minha Opinião é que o Shoemaker-Levy era um cometa”, diz Almeida “Do contrário, não teria se desintegrado em tantos pedaços. A água presente nele deve ter se evaporado durante o choque, que ocorreu a uma temperatura de cerca de 30 000 graus Celsius”.
Outra observação que os astrônomos fizeram é que o choque do chamado fragmento K provocou grandes distúrbios no campo magnético que envolve Júpiter. Apesar de ter atingido a parte sul do planeta, o choque do fragmento criou uma luminosidade na parte norte. Acredita-se que os distúrbios eletromagnéticos viajaram de um hemisfério para outro por linhas magnéticas que circundam o planeta.