Conheça a cientista brasileira que estuda vulcões em outros planetas
Rosaly Lopes participa de missões não-tripuladas da NASA pelo Sistema Solar. No #MulherCientista dessa semana, entenda como o estudo de vulcões pode ajudar na busca por vida fora da Terra.
A carioca Rosaly Lopes passou parte da infância sonhando em ser astronauta. Ela acompanhava de perto as notícias sobre a missão Apollo, mas com apenas seis anos de idade já percebeu que não daria certo na profissão: era mulher, brasileira e (muito) míope. Naquela época, apenas uma mulher havia ido ao espaço, pelo programa espacial da URSS.
Mas o fascínio pela astronomia não desapareceu. Já que não seria astronauta, poderia pelo menos ajudar na exploração do espaço. Ela se inspirou após ler uma reportagem sobre a astrônoma Frances Northcutt, que fazia os cálculos de rotas da missão Apollo 13. Rosaly decidiu cursar astronomia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas logo no segundo semestre fez transferência para Londres, ainda com o sonho de trabalhar para a NASA.
A segunda fonte de inspiração veio quando seu professor de geologia planetária faltou à aula. O vulcão Etna, na Itália, havia entrado em erupção, e ele aproveitou a oportunidade para estudá-lo de perto. A situação atiçou aquele espírito aventureiro de Rosaly que sonhava em ser astronauta.
A única coisa mais empolgante do que estudar vulcões e outros planetas é estudar vulcões em outros planetas. A pesquisadora fez seu PhD em geologia e vulcanismo planetário. Ela precisou explorar e estudar os vulcões da Terra para entender o que acontecia lá fora. E não só entendeu como é a pessoa que mais descobriu vulcões ativos no universo: 71 no total. Todos foram detectados pela astrônoma em Io, uma das luas com mais erupções do Sistema Solar. O feito rendeu uma menção no livro de recordes Guinness, em 2006.
No final das contas, Rosaly de fato participou de explorações da agência espacial americana. Ela trabalha no Jet Propulsion Laboratory, que coordena missões não-tripuladas da NASA pelo Sistema Solar. Os vulcões mencionados antes foram descobertos durante a missão Galileo, que coletou dados sobre as luas de Júpiter (Io, por exemplo) entre 1989 e 2003.
O astro que mais a interessa agora é Titã. A lua de Saturno é parecida com a Terra: possui uma atmosfera com elementos orgânicos e processos geológicos semelhantes aos que existem aqui. Mas o que chama mais a atenção são os reservatórios de água líquida no subsolo de Titã, abaixo de uma camada de gelo com quilômetros de espessura.
Se houver material orgânico nos oceanos subterrâneos de Titã, é possível que algumas formas de vida tenham se desenvolvido por lá. Rosaly colabora com astrobiólogos para verificar a possibilidade de algumas bactérias sobreviverem naquele ambiente. Acontece que só dá para estudar essa água (e a possível forma de vida) se ela chegar à superfície – e é aí que entram os vulcões.
A atividade vulcânica que expele essa água (ao invés de magma) é chamada de criovulcanismo. A pesquisadora estudou a geologia de Titã durante a missão Cassini-Hyugens, que coletou dados sobre o astro entre 2004 e 2017. Ela encontrou indícios de que pode ter existido criovulcanismo em Titã – um bom sinal de que vale investir na busca por vida.
Rosaly também é a primeira mulher e pessoa não-americana a assumir o cargo de editora-chefe do periódico Icarus, que publica pesquisas sobre ciência planetária. O posto também foi ocupado pelo astrônomo e divulgador científico Carl Sagan, na década de 1970.
A astrônoma assumiu o cargo no periódico em 2018, mas admite que já planeja passá-lo para frente. Isso porque irá ocupar o posto de cientista-chefe de exploração do Sistema Solar no Jet Propulsion Laboratory a partir de 2021. Sua função é avaliar propostas para as próximas missões, e garantir que elas sejam organizadas da maneira mais científica possível – empregando os cientistas de maneira estratégica, com os equipamentos certos e, principalmente, com boas perguntas a serem respondidas.