Conheça o Telescópio Gigante de Magalhães, projeto com investimento brasileiro
As primeiras imagens do aparelho, a ser construído no deserto do Atacama, estão previstas para o final desta década. Entenda.
Um monte de explosivos detonou o topo da montanha Las Campanas, no norte do Chile, em março de 2012. Era o início da preparação do terreno para a instalação do Telescópio Gigante de Magalhães (GMT, na sigla em inglês) – cujos espelhos primários começaram a ser produzidos no longínquo ano de 2005.
Telescópios são planos de longo prazo na astronomia, e estão sempre sujeitos a atrasos e revisões, como qualquer grande projeto. (Veja só o James Webb, que levou duas décadas para sair do papel e alcançar o espaço.) Mas espera-se que agora a construção do GMT, inicialmente previsto para 2016, seja acelerada: ele acabou de receber um novo investimento de US$ 205 milhões.
E tem dinheiro nosso aí. US$ 45 milhões, mais especificamente. O montante foi enviado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), uma das instituições do consórcio internacional por trás do projeto, e garante aos pesquisadores brasileiros um tempo determinado para uso do telescópio.
O que é o GMT
Talvez o nome da engenhoca pareça familiar para você. Vem de “Grande Nuvem de Magalhães”, galáxia anã que orbita a Via Láctea e é observada somente do Hemisfério Sul do planeta. Foi vista primeiro pelo navegador português Fernão de Magalhães em suas viagens por aqui no século 16, daí o nome que inspirou o do GMT.
“Gigante” também é uma palavra apropriada para o telescópio. O espelho principal do GMT vai ter 25 metros de diâmetro – formado por sete segmentos de 8,4 metros ajustados por atuadores (em um esquema parecido com o do James Webb). Serão os maiores espelhos do mundo.
Esse é um ponto central, porque quanto maior o espelho, mais luz ele pode refletir para os instrumentos científicos do telescópio. É como um balde maior, que coleta mais água da chuva.
Além de grandes espelhos, o GMT conta com tecnologia de ponta. Entre os instrumentos do telescópio, que vão analisar a luz coletada para fornecer informações aos cientistas, está um dos mais avançados espectrógrafos já desenvolvidos – aparelho que dispersa a luz como num arco-íris e permite o estudo de diferentes propriedades dos objetos celestes observados.
A expectativa é que, assim, o telescópio seja até 200 vezes mais poderoso que os modelos terrestres (sem incluir telescópios espaciais, como o James Webb) existentes hoje. “O GMT vai revolucionar nossa compreensão do universo por meio de tecnologias inovadoras combinadas com um local de primeira categoria”, diz Lisa Kewley, diretora do Centro de Astrofísica de Harvard & Smithsonian, uma das instituições do consórcio internacional.
O deserto do Atacama, futuro lar do telescópio gigante, é uma importante sede da observação astronômica mundial, por causa de suas grandes altitudes. É que a nossa atmosfera prejudica as observações através da absorção ou espalhamento da luz – e, em lugares mais altos, a camada de atmosfera que a luz precisa atravessar é menor. Além disso, a baixa pluviosidade do local faz com que menos nuvens se formem por lá para atrapalhar o trabalho dos telescópios.
A preparação do terreno para instalação do GMT já foi concluída, e a construção de seis dos sete segmentos de espelhos já começou. O plano é que, em 2029, o telescópio esteja pronto para a ação. Então, ele poderá investigar a origem de elementos químicos que fazem parte do nosso planeta, a formação das primeiras estrelas do Universo, a atmosfera de planetas fora do sistema Solar, além das misteriosa matéria escura.