Corais do Atlântico tropical têm futuro ameaçado pela crise climática
Cientistas coletaram dados e usaram simulações de computador para descobrir como o aquecimento global vai afetar três espécies importantes para a construção de recifes no nosso quintal oceânico.
Os recifes de corais são muito importantes para vida marinha: eles servem como locais de alimentação, reprodução e refúgio para várias espécies. O problema é que eles são especialmente suscetíveis às mudanças climáticas, especialmente o aumento da temperatura dos oceanos.
Quando eles morrem, levam junto ecossistemas marinhos inteiros num efeito dominó. Para investigar o que pode acontecer com os recifes de coral do Atlântico Sul, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estudaram três espécies de corais. O estudo foi publicado recentemente no periódico especializado Frontiers in Marine Science.
Os pesquisadores selecionaram três corais construtores do Atlântico Sul: Mussismilia hispida, Montastraea cavernosa e Siderastrea sp. Estes corais são chamados de “construtores” porque contribuem para a construção de recifes a partir da deposição de carbonato de cálcio durante seu crescimento – o material que forma o esqueleto desses cnidários. (Outros organismos também auxiliam na formação da estrutura dos recifes, como as algas calcáreas.)
O objetivo dos pesquisadores era entender como a distribuição geográfica desses corais pode se alterar com as mudanças climáticas. Para isso, eles verificaram a ocorrência de cada espécie em diversos locais do Atlântico Sul e também coletaram dados como a temperatura da água na superfície do mar. Assim, eles entenderam as condições em que as espécies conseguem (ou não) sobreviver.
Em seguida, eles realizaram algumas projeções alimentando simulações de computador com as informações coletadas. Os cientistas elaboraram cenários hipotéticos – um otimista, um intermediário e um pessimista – do avanço do aquecimento global no futuro, considerando condições ambientais diferentes, com concentrações maiores ou menores de gases do efeito estufa na atmosfera.
“Nós conseguimos obter modelos robustos que nos mostram que todas as espécies estudadas irão sofrer mudanças na distribuição, independente do cenário climático usado”, afirma Silas Principe, doutorando em Oceanografia pelo Instituto Oceanográfico da USP e um dos autores do estudo.
“Isso é muito preocupante, especialmente para o Brasil, onde menos espécies contribuem para formação dos recifes. Por exemplo, em Abrolhos nós identificamos grandes áreas em que a espécie Mussismilia hispida poderá desaparecer no futuro, o que deve causar mudanças dramáticas nos recifes daquela região”.
O pesquisador destaca que os recifes de corais também propiciam uma série de benefícios aos seres que vivem ao redor dessas estruturas. “Quando perdemos espécies importantes na manutenção dos recifes de corais, estamos impactando também a provisão de todos esses serviços ecossistêmicos – o que consequentemente impacta todos nós.”
Os pesquisadores destacam a necessidade de uma “mudança urgente de rumo”, já que nossas atuais emissões de gases do efeito estufa estão nos levando ao cenário mais pessimista estudado por eles.
Principe afirma: “Além do compromisso individual, é importante que os governos adotem urgentemente uma agenda de redução das emissões. Outro ponto importante é garantir um melhor manejo das áreas costeiras, regulando o turismo, controlando a pesca ilegal e criando mais áreas de proteção marinha”.
O pesquisador também destaca que projeções como a deste estudo são desafiadoras e levam em conta uma série de incertezas, por isso eles estão continuamente buscando incorporar dados climáticos melhores, além de mais dados sobre as espécies estudadas.
“Nosso plano é fazer projeções de distribuições futuras de outras espécies-chave de recifes de coral – de algas a peixes – e integrar todos esses resultados para ter uma melhor compreensão de como as mudanças climáticas afetarão os recifes do Atlântico.”