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Corte de verba pode tirar Brasil do LHC, o superacelerador de partículas

Governo federal não vai pagar a taxa de participação dos 130 cientistas brasileiros envolvidos no maior acelerador de partículas do mundo, que detectou o Bóson de Higgs

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
19 set 2017, 21h24

A participação brasileira nos experimentos realizados no maior acelerador de partículas do mundo – o Grande Colisor de Hádrons (LHC), localizado na fronteira da França com a Suíça – está ameaçada pelos planos orçamentários do governo federal para 2017 e 2018, que não contemplam a contribuição financeira exigida pela Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN) para manutenção do equipamento. O LHC se tornou célebre após a detecção do Bóson de Higgs (a “partícula de Deus”, entenda) em 2013.

Três pesquisadores associados à Rede Nacional de Física de Altas Energia (RENAFAE) foram a Brasília nesta terça-feira (19) para negociar pessoalmente com assessores e deputados as contribuições para pagar a dívida. Marcelo Munhoz, professor do Instituto de Física da USP (IFUSP) e um dos membros da comissão, explicou à SUPER que o CERN pede cerca de 8 mil francos suíços anuais (26 mil reais) a cada professor doutor que participe da pesquisa. Essa taxa, naturalmente, é paga pela instituição em que trabalham os cientistas, e não pelos cientistas em si, e é usada para manter a enorme estrutura de mais de 7 bilhões de euros em funcionamento. Hoje, o LHC envolve 608 instituições de ensino e pesquisa e cientistas de mais de 80 nacionalidades.

O grupo de Marcelo, em específico, está envolvido diretamente com o ALICE (um dos vários experimentos realizados atualmente no LHC, voltado à detecção da colisão de núcleos de íons pesados. Entenda melhor o que é feito por lá nesta matéria da SUPER). São 11 pesquisadores da USP, UFABC e Unicamp, que exigem um investimento anual de cerca de 280 mil reais. Além da equipe envolvida com o ALICE, há outros 120 brasileiros nos outros seis experimentos do acelerador. A participação nacional no projeto, ao todo, custa cerca 2,5 milhões de reais por ano aos cofres públicos.

Do projeto da Lei Orçamentária de 2018, enviado ao Congresso pelo Executivo no último dia 31 de agosto, não consta esse valor, que já não foi pago em 2017. O CERN aceita um ano de atraso no pagamento da taxa, mas dois são suficientes para tirar o Brasil do projeto.

“É uma pesquisa de ponta, em laboratório internacional, na qual estão envolvidos mais de 10 mil pesquisadores do mundo inteiro. Todo país que tem um mínimo de atividade científica participa, e o Brasil corre o risco de ficar fora disso”, explicou Munhoz à SUPER por telefone, sentado no gabinete de um deputado em Brasília. “Nós estamos devendo cerca de 620 mil reais. Por causa desse valor, corremos o risco de jogar fora o investimento de 5 milhões de reais que a Fapesp já fez no ALICE.” Os 5 milhões mencionados dizem respeito à tecnologia 100% desenvolvida no Brasil que já foi instalada e está sendo aplicada nos detectores do LHC.

Até esta terça, o professor da USP e seus colegas já haviam falado com 20 assessores e cinco deputados. Há mais reuniões marcadas para quarta-feira (20). A ideia, agora que a lei já foi enviada para o Congresso, é tentar fazer com que congressistas sensíveis à causa – principalmente os da Comissão de Ciência e Tecnologia Informação e Comunicação (CCTIC) – dediquem parte de seus investimentos a pagar a taxa cobrada pela participação brasileira nos experimentos do acelerador de partículas. O Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), ao qual a RENAFAE está associada, tem cerca de 100 mil reais em caixa atualmente.

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