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Covid-19: Como funciona a terapia com anticorpos testada pela AstraZeneca

O medicamento AZD7442 entrou na fase final de testes e pode ajudar a fornecer proteção temporária contra o vírus em pessoas vulneráveis.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 30 dez 2020, 19h23 - Publicado em 30 dez 2020, 17h29

A AstraZeneca, farmacêutica britânica cuja vacina contra a Covid-19 foi aprovada no Reino Unido hoje (30), fez um outro anúncio promissor no combate à pandemia recentemente: um novo medicamento desenvolvido para a doença entrou na última fase de testes, e pode salvar vidas caso se mostre eficaz.

Chamada de AZD7442, a terapia é baseada em anticorpos, proteínas liberadas pelo sistema imunológico para nos defender de patógenos invasores. A ideia é oferecer uma combinação pronta de anticorpos para pacientes expostos ao SARS-CoV-2, a fim de combater o vírus antes que um quadro de Covid-19 se desenvolva.

“Sabemos que esta combinação de anticorpos pode neutralizar o vírus, por isso esperamos descobrir se este tratamento leva à proteção imediata contra o desenvolvimento de Covid-19 em pessoas que já foram expostas – quando seria tarde demais para usar uma vacina”, disse em comunicado Catherine Houlihan, virologista que comanda o estudo.

Funciona assim: quando uma pessoa é infectada pelo coronavírus, seu sistema imunológico responde à invasão com uma série de medidas. Uma delas é a produção de anticorpos, que têm formatos específicos para cada tipo de patógeno, como se fosse uma chave encaixando em uma fechadura. Dessa forma, o anticorpo consegue se ligar ao invasor e neutralizá-lo. O processo, no entanto, pode demorar dias e até semanas – e, em alguns casos, não consegue salvar o paciente a tempo.

As vacinas funcionam por causa dessa lógica: elas simulam uma infecção sem sintomas e sem danos ao corpo do usuário, estimulando o sistema imunológico a criar seus próprios anticorpos e manter uma defesa duradoura. Mas vacinas só funcionam como prevenção: elas não conseguem tratar quem já pegou a doença.

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Uma das ideias da ciência, então, é oferecer esses anticorpos prontos para pessoas que estão infectadas, garantindo uma linha de defesa instantânea contra o vírus. O uso do plasma convalescente se baseia nessa ideia: o plasma sanguíneo de pessoas curadas da Covid-19 são transferidos para pessoas que estão doentes. Espera-se que os anticorpos já “treinados” presentes no plasma ajudem a combater a doença em quem recebe a doação.

Mas o plasma convalescente envolve uma combinação ampla de várias substâncias, o que não necessariamente resulta na melhor eficácia. Para a Covid-19, o uso dessa terapia tem apresentado resultados ambíguos e não parece ser uma aposta certeira de cura.

Uma outra estratégia se baseia em isolar os anticorpos mais eficientes contra o coronavírus em laboratório para replicá-los em massa. Esses anticorpos, chamados de monoclonais, são então injetados em pacientes infectados para evitar a progressão da doença.

É nessa tecnologia que a nova aposta da AstraZeneca se baseia. A terapia é, na verdade, a combinação de dois anticorpos específicos capazes de se ligar à proteína spike do vírus, utilizada para infectar células humanas. Além disso, a equipe modificou os anticorpos para aumentar o tempo de vida deles – o que, segundo esperam, pode estender a proteção para um período maior, entre seis meses e um ano.

O medicamento será testado agora na chamada fase 3, quando milhares de voluntários recebem a terapia e sua eficácia é verificada por meio de um estudo randomizado, controlado por placebo e duplo-cego. O medicamento já passou por fases preliminares que comprovaram sua segurança, embora os dados completos ainda não tenham sido divulgados.

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A ideia é que a terapia, caso aprovada, possa ajudar a evitar surtos. Se um caso for detectado em uma escola, uma casa de repouso para idosos ou hospital, por exemplo, as outras pessoas do grupo de risco no local poderiam receber o medicamento preventivamente. Outro uso possível é para pessoas que não podem se vacinar por razões de saúde, como pessoas imunossuprimidas. 

Vale lembrar que terapias com anticorpos monoclonais fornecem proteções apenas temporárias, enquanto a vacina gera respostas de defesa mais duradouras. Isso porque a vacina “ensina” o seu próprio corpo a se proteger, criando uma memória imunológica. Os anticorpos monoclonais já oferecem a proteção pronta, mas sem criar essa memória.

Não é a primeira terapia de anticorpos em testes e em uso. Quando o presidente americano Donald Trump testou positivo para Covid-19 em novembro deste ano, seus médicos também utilizaram uma terapia baseada em anticorpos monoclonais, mas desenvolvida pela empresa Regeneron, que na época ainda estava em fase experimental. Em 21 de novembro, a FDA (a Anvisa americana), anunciou a autorização para o uso emergencial dessa terapia em pacientes com sintomas leves (mas não para casos graves) após bons resultados em testes. O mesmo foi feito para a terapia de anticorpos monoclonais da farmacêutia Eli Lilly, no dia 9 de novembro. Outros medicamentos do tipo também estão sendo testados pelo mundo.

Apesar de promissoras, todas essas terapias baseadas em anticorpos enfrentam um problema: elas exigem tecnologias de ponta e, por isso, são muito caras. Caso se mostrem realmente eficazes em evitar mortes, será um desafio produzir e distribuir os medicamentos em massa, especialmente fora dos países ricos. 

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