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El Niños estão mais frequentes e com consequências mais graves, diz estudo

Eventos de múltiplos anos se tornaram cinco vezes mais comuns, mas, há 7 mil anos, o mais comum era que durassem apenas um ano.

Por Manuela Mourão
12 abr 2025, 12h00

O fenômeno climático El Niño, conhecido por causar variações significativas no clima global, está ocorrendo de forma consecutiva com maior frequência. Estudos recentes apontam que tanto El Niño quanto La Niña estão persistindo por períodos mais longos, amplificando seu potencial destrutivo. 

El Niño e La Niña são fenômenos climáticos que representam extremos opostos do ciclo natural conhecido como Oscilação Sul-El Niño (ENSO). O El Niño é caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, o que altera os padrões de vento e afeta o clima global, causando chuvas intensas em algumas regiões e secas severas em outras. 

Já a La Niña ocorre quando há um resfriamento dessas mesmas águas, geralmente provocando o efeito contrário: seca onde costuma chover e aumento de chuvas onde normalmente é seco. Ambos têm impactos profundos na agricultura, na pesca, na saúde e na economia ao redor do mundo.

Historicamente, eventos de El Niño duravam cerca de um ano, alternando-se com La Niña em ciclos irregulares a cada dois a sete anos. No entanto, nas últimas décadas, esses padrões climáticos têm persistido por períodos mais longos e ocorrido com maior frequência. 

Essas mudanças têm consequências graves. Eventos como os de 1997–98 e 2015–16 causaram inundações catastróficas no Pacífico oriental, enquanto provocaram secas severas na África, Austrália e sudeste asiático.

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Essas perturbações não apenas alteram o clima, mas também devastam colheitas, colapsam pescarias, branqueiam recifes de coral, alimentam incêndios florestais e ameaçam a saúde humana. O El Niño de 1997-98, por exemplo, resultou em perdas econômicas globais estimadas em US$ 5,7 trilhões. Outro exemplo é o evento de La Niña que se estendeu de 2020 a 2023.

Pesquisadores sugerem que a tendência crescente de eventos consecutivos de El Niño e La Niña está ligada a mudanças fundamentais no sistema climático da Terra. 

Zhengyao Lu, um paleoclimatólogo da Universidade Lund, e uma equipe de pesquisadores publicaram um estudo na Nature Geoscience, em que, por meio de análises de corais antigos no Pacífico, revelaram que, há 7.000 anos, eventos de El Niño de um único ano eram a norma. Contudo, ao longo do tempo, eventos de múltiplos anos tornaram-se cinco vezes mais comuns. 

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De acordo com os cientistas, os eventos de El Niño e La Niña passaram a durar mais no Holoceno devido ao afinamento e à maior estratificação da termoclina do Pacífico, o que intensificou a interação entre oceano e atmosfera.

“O principal fator por trás dessa estratificação tem sido a lenta mudança na órbita da Terra, que altera a distribuição da energia solar que o planeta recebe”, explica Zhengyao Lu em um artigo para o The Conversation. “Essas variações orbitais influenciaram sutilmente as temperaturas da superfície oceânica no Pacífico tropical, empurrando o ENSO para fases mais longas.”

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Acontece que esse processo ocorre de forma natural e ao longo do tempo. Porém se intensificou com as mudanças climáticas. “As emissões de gases de efeito estufa, principalmente pela queima de combustíveis fósseis, estão acelerando essa tendência. O calor extra retido na atmosfera e nos oceanos torna as condições ainda mais favoráveis para eventos ENSO mais persistentes — e possivelmente mais intensos”, escreve Lu.

As consequências já são realidade: as enchentes em Porto Alegre, as queimadas em Los Angeles, recordes de temperaturas altas ao redor do globo, furacões cada vez mais intensos e tantas outras. 

“Embora não possamos mudar a órbita da Terra, podemos cortar as emissões de carbono, fortalecer os esforços de resiliência climática e nos preparar para condições climáticas extremas mais persistentes”, conclui o autor do estudo.

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“A ciência é clara: El Niño e La Niña estão persistindo por mais tempo, e suas consequências serão sentidas em todo o mundo. A hora de agir é agora, antes que a próxima onda de choque Enso de vários anos aconteça.”

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