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Encontrados neurônios que fazem a meditação funcionar

Região do sistema nervoso que serve de "marca-passo" para os pulmões têm células que dizem ao cérebro o que fazer conforme você respira – sem elas, você entraria em um eterno torpor

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 abr 2017, 23h31 - Publicado em 3 abr 2017, 19h05

Encher os pulmões e depois soltar o ar devagar é uma ótima ideia se você precisa se acalmar – mais do que beber água com açúcar, segundo a medicina. E embora várias pesquisas já tenham provado os efeitos benéficos de práticas como a meditação, ninguém entendeu ainda porque controlar a respiração mantém nossa atividade cerebral sob controle – a intuição, nesse caso, vence a neurociência. Ou vencia até agora.

Um grupo de pesquisadores de Stanford usou ratinhos de laboratório para testar a função específica de cada neurônio que compõe o complexo pré-Bötzinger (preBötC), região do sistema nervoso que controla o ritmo dos pulmões. E descobriu um grupo deles que dá ordens ao cérebro conforme a maneira como respiramos.

“O trabalho do marca-passo pulmonar é mais difícil que o de sua versão cardíaca”, afirmou no site da Universidade de Stanford Mark Krasnow, bioquímico responsável pela pesquisa. “Afinal, há muitos tipos diferentes de respiração: as risadas, os suspiros, os bocejos, os arquejos etc. Nós pensamos que, dentro do preBötC, grupos específicos de neurônios talvez fossem responsáveis por gerar tipos diferentes de respiração.”  

Dito e feito: lá dentro foram encontradas mais de 60 “famílias” de neurônios, cada uma com uma função ainda desconhecida. O próximo passo foi usar engenharia genética para descobrir qual tipo de respiração é atribuição de qual parte do preBötC. A equipe de Krasnow excluiu uma família de cada vez, e então ficou de olho no que os ratos deixavam de fazer sem esse pequeno pedaço do sistema nervoso. O primeiro sucesso da técnica foi registrado em um artigo de março de 2016: a exclusão de 200 neurônios impediu suspiros – e só suspiros – para sempre. Todos os outros padrões de inspiração e expiração do ar saíram ilesos.

O segundo sucesso veio agora. Após deletar 175 neurônios associados aos marcadores genéticos Cdh9/Dbx1, a equipe de Krasnow estava desapontada com as consequências nas cobaias: nada de diferente ocorreu, e os ratinhos pareciam entediados. “Se você põe eles em um ambiente novo, eles geralmente começam a farejar e explorar. Eu tentei e eles ficaram se penteando”, contou Kevin Yackle, co-autor do estudo.

Mas a chave estava justamente no tédio. As cobaias não perderam nenhuma função respiratória específica, só se tornaram mais propensas a passar o dia bocejando e relaxando. E isso aconteceu porque esses neurônios eram responsáveis não por arquejos ou suspiros, mas por informar ao cérebro se o ratinho estava arquejando ou suspirando. Uma família de células “espiãs” que, em última instância, diz ao cérebro o que fazer conforme as necessidades dos pulmões. Sem estímulos ou sinais de alerta, a solução é relaxar. 

“Se há algo impedindo ou acelerando sua respiração, você precisa saber o mais rápido possível. Esses neurônios são críticos”, afirmou Krasnow. “Eles têm um papel-chave no efeito da respiração sobre as emoções em práticas como a meditação. Nós temos esperança de que entender as funções exatas desse centro vai nos ajudar a desenvolver terapias para estresse e depressão.” Em outras palavras: a mágica da meditação reside no fato de que sua respiração efetivamente pode dar ordens ao cérebro – o comando não é unidirecional. 

Ficou animado? Calma, respire fundo: ratos não são seres humanos. Mas nossos cérebros são parecidos o suficiente para suspeitar que algo parecido ocorre na nossa cabeça. Enquanto o próximo estudo não vem, que tal uma aula de yoga?

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