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Esse cara levou mais de mil picadas para definir a mais dolorida

Batemos um papo com o entomologista e vencedor do Ignobel Justin Schmidt, que se deixou picar por centenas de insetos diferentes para criar a primeira escala de dor de ferroadas

Por Helô D'Angelo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 11 out 2016, 20h45

Justin Schmidt realizou o pesadelo de milhões de pessoa: foi picado por centenas de insetos diferentes. Mas não foi sem querer: o objetivo era criar uma escala de dor das ferroadas, humildemente batizada de Escala de Dor Schmidt. A proeza rendeu, ano passado, um prêmio Ig Nobel (uma paródia relativamente séria do Nobel) e, depois disso, a escala ficou tão famosa que foi até citada no filme Homem Formiga. Esse ano, o cientista lança o livro The Sting of the Wild (A ferroada selvagem, em tradução livre) sobre suas aventuras dolorosas. Olha só o papo que a gente bateu com o cientista: 

SUPER: Quando você começou a se interessar por insetos? 
Justin Schmidt: Assim que pude engatinhar no quintal. Eu não gostava de dinossauros: preferia os insetos porque eles eram pequenos como eu. Quando fiz 20 anos, minha esposa, Debbie [Schmidt, uma zoóloga], me deu um livro chamado Wasp Farm [de Howard Evans], e a minha velha curiosidade reacendeu: desisti de cursar química na universidade e fui para a entomologia. 

Como você teve a ideia de criar a Escala Schmidt de Dor?  
Eu e Debbie estávamos estudando a formiga-de-fogo (Pogonomyrmex) e fomos picados. A dor era como se a minha pele tivesse sido rasgada, foi diferente de tudo o que eu já tinha experimentado. Fiquei intrigado. Pensei: para estudar o veneno dos insetos, existem escalas de toxicidade. Mas e de dor? Não tinha. Então, toda vez que era picado por insetos diferentes, eu descrevia a dor em diários. Também perguntava para colegas entomologistas sobre as ferroadas que eles tinham levado, e pedia que eles as descrevessem. Depois de um tempo, consegui descrições o suficiente para criar uma escala.

LEIA: Qual é a picada mais dolorida do mundo?

E como funciona a escala? 
Ela vai de 0 a 4: bem no meio, no 2, está a picada mais comum de todas, a de abelha. Quase todo mundo já levou uma dessas. No nível 0 estão as picadas que não chegam a penetrar na pele humana, e nos níveis mais doloridos ficam as vespas e formigas como a que me levou a começar esse trabalho. 

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Quantas vezes você já foi picado, digamos, profissionalmente? 
JS: Mais de mil vezes: metade por abelhas comuns, um quarto por formigas e o resto por outros insetos, principalmente vespas. 

Falando sério: você já sentiu medo de algum inseto? 
Só em uma situação: certa vez, eu estava experimentando a picada de abelha, e o apicultor entrou em pânico e fugiu. Aí, eu pensei: “Se o cara que mais conhece essas abelhas está com medo, não sou eu que vou ficar tranquilo”. E, claro, fugi também! 

Dos insetos brasileiros, qual tem a pior picada? 
É uma formiga chamada Tucandeira, de longe. Na escala, eu descrevo essa dor assim: “É como andar sobre brasas com pregos grossos e compridos enfiados sob as solas dos seus pés”.

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O que você aprendeu estudando as picadas?
Grandes predadores de insetos, como pássaros, sapos e lagartos, geralmente não vão atrás de um inseto só, porque o esforço não vale a pena. Eles preferem perseguir enxames, e é aí que a minha pesquisa entra: esses insetos que vivem em grupo, como abelhas, vespas e formigas, costumam ter as picadas mais doloridas como um mecanismo de defesa adquirido na evolução. 

Ouvi dizer que você cuida de alguns insetos na sua casa. Como é ter bichos de estimação tão… peculiares?
É verdade! Tenho uma criação de abelhas assassinas e de vespas caçadoras, além de  escorpiões e barbeiros. Todos ficam no laboratório, com exceção das abelhas, das vespas e das formigas, que eu deixo no meu quintal. Ah, e também tenho tarântulas e outras aranhas, centopeias e besouros, que eu costumo levar para mostrar nas minhas palestras. É como cuidar de qualquer pet: eu dou um pouco de atenção a todos, dou comida e água. Leva só uma hora por dia cuidar deles, é tranquilo. 

Qual o seu inseto favorito? E o que mais te assusta?
Eu não consigo escolher um favorito! Mas eu tenho uma paixão especial pelas vespas caçadoras e pelas formigas-de-fogo. O que mais me assusta são mosquitos como o Aedes aegypti, que podem te deixar realmente doente. Fora que eles são muito chatos. 

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