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Este fungo transforma cigarras em zumbis loucos por sexo

Não só: os insetos perdem metade do corpo e se transformam em "saleiros da morte", enchendo o solo com esporos fúngicos. Entenda.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 22 abr 2024, 11h34 - Publicado em 20 abr 2024, 18h00

Cigarras são um dos insetos mais caseiros que você pode encontrar. Elas nascem debaixo da terra e ficam se desenvolvendo lá por até 17 anos. Quando estão perto da maioridade, finalmente emergem para a superfície. Nessa fase, elas se reproduzem, criando uma sinfonia característica para atrair parceiros de acasalamento enquanto ainda é tempo – algumas semanas depois, elas morrem.

Nesse processo de sair de casa e arranjar um par, a cigarra pode acabar sendo contaminada por um fungo específico – e daí ela se torna um zumbi, refém da vontade do seu parasita e agindo para proliferá-lo.

O Massospora cicadina é um fungo que, ao infectar sua cigarra, não mata ela imediatamente. Ele toma controle do seu corpo e usa o inseto ao seu favor. Assim como o Ophiocordyceps unilateralis usa as formigas como marionete para se proliferar (e que foi a inspiração para The Last of Us), o M. cicadina faz o mesmo – só que de outra forma.

FST (Fungo Sexualmente Transmissível)

Primeiro, os esporos (célula reprodutiva dos fungos) invadem o corpo da cigarra, se acumulando em seu abdômen. A massa de esporos fica tão grande que, eventualmente, empurra toda a parte traseira do inseto para fora do corpo – seus órgãos genitais e tudo nessa porção inferior caem. No lugar, fica exposta uma massa fúngica branca.

Mesmo sem as genitálias, as cigarras infectadas tentam acasalar. “Tentam” é um eufemismo – por meio de compostos químicos, o fungo manipula o comportamento sexual das cigarras e as transforma em maníacas sexuais. Os pesquisadores chamam esse comportamento de “hipersexualização”, e envolve o esforço constante das cigarras, principalmente machos, de acasalarem.

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Os machos infectados vão acasalar com as fêmeas e, porque seus órgãos genitais estão faltando, não vão conseguir. Além disso, eles vão mudar seu comportamento para também atrair insetos machos. 

Geralmente, os machos fazem barulho para atrair as fêmeas, e elas batem as asas para indicar que aceitaram a proposta de acasalamento. Machos infectados voam até outros machos e batem as asas como fêmeas para atraí-los e infectá-los.

Assim, cigarras saudáveis entram em contato com o fungo e acabam se infectando também.

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“Saleiros da morte”

As tentativas de acasalamento são só um dos jeitos que o M. cicadina tem de se proliferar. Depois do sexo, as novas cigarras infectadas vão tentar copular com outros insetos. Nesse voo, elas vão balançando as bundinhas, e toda aquela massa fúngica de esporos começa a se desprender aos poucos, salpicando fungos pelo chão.

Daí vem o apelido de “saleiros da morte”. Os esporos dispersos por estes insetos voadores infectam a próxima geração de cigarras que, dez anos depois, vai sair do solo pela primeira vez. Assim o ciclo recomeça e o fungo continua sobrevivendo.

O M. cicadina não é uma grande ameaça para todas as cigarras do mundo. Fungos parasitas se especializam em um inseto em específico. Ou seja: cada espécie de Massospora ataca uma espécie de cigarra diferente. 

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E não se preocupe: a grande maioria dos fungos não sobrevive dentro do corpo humano, que também é muito mais complexo do que o de um inseto e, portanto, mais difícil de ser controlado. 

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A trama da vida: como os fungos constroem o mundo

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