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Estudo usa karaokê para descobrir o que nos faz corar

Cantoria com músicas humilhantes e exames de imagem cerebral foram as ferramentas usadas por cientistas para entender por que ficamos vermelhos.

Por Eduardo Lima
20 jul 2024, 14h00

Cantar karaokê na frente dos outros requer coragem. Você arrisca desafinar, errar o ritmo, passar um pouco de vergonha na frente dos amigos ou de desconhecidos num bar. Agora, pesquisadores da Universidade de Amsterdã analisaram o constrangimento único causado pelo karaokê para tentar entender o que acontece no nosso cérebro quando coramos.

Funcionou assim: dezenas de voluntários jovens entre 16 e 20 anos foram convidados para participar de um estudo sobre o qual eles não sabiam nada. Quando chegaram no laboratório, os adolescentes descobriram que teriam que cantar, de frente para uma câmera, Let It Go, a música do filme Frozen, ou alguma outra faixa que eles poderiam escolher.

Depois da performance, os voluntários precisariam assistir às suas sessões de cantoria ao lado dos outros jovens, enquanto estavam conectados a scanners cerebrais. Além disso, sensores de temperatura na bochecha ajudavam a saber quando os participantes começavam a corar, aquilo que Charles Darwin chamou de “a mais humana de todas as expressões”.

Hello, it’s me: a bochecha corada

Há duas grandes hipóteses entre os psicólogos sobre o que leva alguém a corar. As bochechas vermelhas podem ser uma consequência de pensar em como os outros estão nos vendo, como aparecemos para aqueles que nos observam, como Darwin pensava. Ou corar pode ser só uma reação mais simples e espontânea a se sentir exposto. O estudo do karaokê, publicado na Proceedings of the Royal Society B, chegou a uma resposta.

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A lista de músicas do experimento para entender os motivos das bochechas vermelhas incluía Hello, da Adele, All I Want For Christmas Is You, da Mariah Carey, All The Things She Said, do girl group russo t.A.T.u, e a já mencionada Let It Go. As canções foram consideradas como difíceis para cantar sem desafinar, pensadas especialmente para causar mais vergonha.

O estudo focou em jovens mulheres, já que, das mais de 60 pessoas que se inscreveram para participar da pesquisa, só duas eram do sexo masculino.

Uma semana depois das performances, os voluntários voltaram para assistir os vídeos do karaokê, deles mesmos e de todos os outros participantes, enquanto estavam deitados numa máquina de tomografia. Os cientistas disseram que as outras pessoas estavam assistindo aos vídeos deles ao mesmo tempo que eles, o que não era verdade, mas foi pensado propositalmente para causar mais vergonha.

As pessoas coraram mais assistindo a elas mesmas cantando do que vendo as outras, como já era esperado. A expressão foi relacionada com mais atividade no cerebelo, ligado pelos pesquisadores à excitação emocional, e áreas ligadas à atenção.

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Nada nas imagens cerebrais indicou que as bochechas vermelhas tenham a ver com pensar em como os outros estão nos julgando ou nos observando. Processos complexos sociais e cognitivos parecem não ser necessários para a bochecha corada.

De acordo com o estudo, corar provavelmente é só uma reação a se sentir exposto, mesmo, uma expressão de vergonha automática e natural. Não precisa sentir vergonha de ter vergonha.

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