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Fêmea de crocodilo na Costa Rica se reproduz sozinha, sem um macho

De forma assexuada, o animal gerou um feto completamente formado - mas que não sobreviveu.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 16 jun 2023, 13h04 - Publicado em 14 jun 2023, 15h50

Em janeiro de 2018, 14 ovos foram encontrados no recinto do crocodilo-americano (Crocodylus acutus) no Parque Reptilandia, um zoológico na Costa Rica. Não seria nada de mais, não fosse um detalhe: só havia um animal lá dentro.

A fêmea de 18 anos era mantida isolada de qualquer outro crocodilo desde 2002, quando chegou ao parque. Expondo-os contra a luz, sete dos ovos pareciam ter algo dentro. Fetos. 

Isso não é algo propriamente inédito na natureza. Trata-se da partenogênese, capacidade de uma fêmea se reproduzir assexuadamente, sem a necessidade de um macho. Casos de embriões que se desenvolvem de óvulos não fecundados já foram observados em lagostas, cobras, lagartos e até perus, mas são uma novidade para crocodilos.

Depois de examinarem os ovos, a equipe do parque contatou um grupo de pesquisadores para saber como proceder com a descoberta inesperada. Os cientistas sugeriram que eles incubassem os ovos, como se tivessem sido fecundados normalmente.

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Acabou que nenhum deles eclodiu. Sendo assim, a equipe decidiu abri-los e analizar seu conteúdo. Seis dos ovos continham um material irreconhecível, provavelmente uma mistura de gema e células não desenvolvidas. Um único ovo, no entanto, abrigava um feto de crocodilo-americano completamente formado, mas sem vida.

A análise genética feita a partir dos tecidos do coração do feto e da pele da mãe revelou uma correspondência de DNA de 99,9% – confirmando a hipótese dos pesquisadores de que não houve um pai envolvido na concepção: esse foi um caso de reprodução assexuada. 

Um feto de crocodilo que se desenvolveu a partir de um ovo não fertilizado.
A reprodução assexuada gerou um feto fêmea de crocodilo completamente formado, mas sem vida. (Warren Booth/Montagem sobre reprodução)

A bebê crocodilo não era, tecnicamente, um clone. Segundo os pesquisadores, nos casos conhecidos de partenogênese em vertebrados, o embrião se forma a partir da fusão do óvulo com um de seus próprios subprodutos, o segundo corpo polar. 

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De maneira simplificada: um gameta como o óvulo tem só metade do material genético de um ser vivo (trata-se de uma célula haploide). Para isso, ele precisa se dividir e jogar fora a outra metade. A célula que fica com essa metade “resto” é o corpo polar. Se um óvulo acidentalmente se fundir de volta com um corpo polar, ele volta a possuir um genoma completo, diploide.

Outro detalhe importante é que havia a possibilidade do bebê ter sido um macho. Nos crocodilos, o sexo é puramente determinado pelas temperaturas externas durante a incubação – o fato dela só ter DNA da mãe não significa nada.

“Embora seja decepcionante que o crocodilo não tenha eclodido, não é incomum ver fetos inviáveis e anormalidades de desenvolvimento dentro de ninhadas de partenogênicos, além de falha de crescimento de longo prazo, mesmo para indivíduos nascidos aparentemente saudáveis”, escrevem os pesquisadores em seu artigo, publicado na Biology Letters, em que descrevem o caso. Apesar da má sorte, muitos descendentes partenogênicos em outras espécies vivem até a idade adulta e conseguem, inclusive, se reproduzir sexualmente.

O motivo de algumas fêmeas de répteis, peixes e anfíbios se reproduzem assexuadamente às vezes ainda é desconhecido. Não é necessariamente a falta de machos, já que ela pode ocorrer mesmo quando há parceiros à disposição. Para os pesquisadores, são necessárias mais pesquisas para entender se essa opção tem benefícios evolutivos ou é só acidental, e observar mais casos desse fenômeno em crocodilos.

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