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Há 800 mil anos, linhagem do Homo sapiens já estava separada dos neandertais

Isso é duas vezes mais antigo do que a estimativa adotada normalmente. A hipótese ousada vem de um estudo que analisou a evolução dos dentes em vez de resquícios de DNA.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 16 jan 2023, 11h58 - Publicado em 16 Maio 2019, 20h14

A espécie humana compartilhou seu último descendente em comum com os neandertais há 800 mil anos, milhares de anos antes do que os cientistas acreditavam até então. O que sustenta essa hipótese são os dentes de 30 fósseis encontrados na caverna Sima de los huesos (em espanhol, “poço dos ossos”) que fica na Espanha. É o que defende um estudo recém-publicado na revista científica Science Advances.

A rigor, o consenso científico é que o Homo sapiens se tornou uma espécie diferente da dos neandertais há 400 mil anos. Um estudo de 2017, no entanto, sugere que essa margem esteja entre 500 mil e 765 mil anos atrás. Independente de qual seja a diferença, o fato é que a nova pesquisa propõe que o último parente comum nascem ainda mais cedo.

Os fósseis descobertos em Sima de los Huesos estão entre os registros mais antigos de neandertais já encontrados por arqueólogos. Segundo estimativas, eles teriam cerca de 430 mil anos de idade.

É bom lembrar que os neandertais não se ramificaram diretamente do Homo sapiens: ambos descendem de uma espécie mais antiga, e evoluíram em continentes diferentes: nós, na África, eles, na Eurásia. Ou seja: o último ancestral comum entre um ser humano contemporâneo e um neandertal não era nem um, nem outro.

Ao contrário do que costuma acontecer em estudos que fazem a datação de fósseis antigos, o alvo da análise dos dentes de Sima de los huesos não foi o DNA. Foi utilizada, no caso, uma técnica que rastreia sinais evolutivos dos fósseis a partir do formato de seus dentes. O método em questão foi criado por Aida Gomez-Robles, pesquisadora da University College London e autora do estudo. Ele considera que as coroas dos molares e pré-molares fossilizados achados na caverna mudaram de tamanho e formato a uma taxa constante ao longo da história dos hominídeos.

Dessa maneira, foi possível recriar o caminho inverso – criando uma árvore genealógica da dentição dos hominídeos. Fazendo uma “regressão a dentições passadas” e comparando com fósseis de outros sete tipos de hominídeos, cientistas chegaram ao último ancestral de ambas as espécies. Este tal parente distante seria o primeiro capaz de originar dentes parecidos tanto com os encontrados Sima de los huesos quanto com aqueles que os humanos atuais ostentam na boca.

É aí que entram os 800 mil anos que comentamos ali no começo.

É possível, como destaca a Revista Smithsonian, que os dentes tenham evoluído a uma taxa incomum devido à pressões genéticas do ambiente – como o fato de a população da caverna ter vivido isolada de outros neandertais da Europa. A explicação mais simples para que os dentes encontrados na caverna desenvolvessem seu formato todo particular, no entanto, seria se os neandertais e os primeiros humanos se separassem evolutivamente há 800 mil anos.

“Qualquer divergência temporal entre os neandertais e os humanos modernos que fosse anterior a 800 mil anos resultaria em uma evolução dental rápida e inesperada nos neandertais primitivos de Sima de los Huesos”, disse Gomez-Robles, em entrevista à AFP.

Ou seja: considerando que a taxa de evolução não pode ser acelerada, o resultado mais provável foi de que a espécie teve mais tempo para evoluir e ganhar dentes com características únicas do que os primeiros estudos supunham. Parentes mais próximos do Homo sapiens, estima-se que os neandertais tenham perdido a batalha da sobrevivência para seus primos mais evoluídos e sumido do mapa há 30 mil anos. Não foi por falta de dentes tão bonitos e afiados quanto os nossos, é claro.

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