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IPCC: Entenda as conclusões do relatório climático mais importante da década

A primeira parte do relatório do Painel de Mudanças Climáticas da ONU mostra que a temperatura terrestre irá aumentar mais 0,4 ºC até 2030 – e que eventos extremos serão mais comuns. Confira.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 29 ago 2021, 15h36 - Publicado em 9 ago 2021, 19h53

Nesta segunda-feira (09), o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) publicou seu relatório mais importante e completo desde 2014. Dentre as principais resoluções, o documento mostra que a temperatura global está aumentando mais rápido do que se imaginava, e que eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes, Além disso, prevê que o aumento do nível do mar pode destruir cidades costeiras ainda este século – e que a ação humana é a principal responsável por tudo isso.

Parece que já ouvimos as previsões acima diversas vezes. De tempos em tempos, pesquisadores da área fazem simulações para estimar o impacto das ações humanas e as possíveis consequências para o meio ambiente nos próximos anos. Um exemplo é esta pesquisa da Universidade de Newcastle, do Reino Unido, publicada no mês passado e que prevê um aumento nas tempestades na Europa em decorrência do aquecimento global.

Só que o IPCC tem uma escala bem maior do que qualquer pesquisa. O relatório é o braço científico da ONU criado em 1988 para fazer avaliações sobre mudanças climáticas e apresentar soluções para o problema. Os cientistas fazem uma revisão dos estudos individuais e do conhecimento científico relacionados ao tema. Não à toa, o documento demora anos para ser concluído.

O primeiro relatório do IPCC foi apresentado em 1990. Desde então, já foram lançadas outras quatro edições – a mais recente era a de 2014. A primeira parte do novo estudo, publicada nesta segunda (9), aborda a base física e científica da mudança do clima. Abaixo, as principais conclusões do documento:

A temperatura global aumentou 1,09 ºC desde a era pré-industrial – e vai aumentar mais 0,4 ºC até 2030

O início do século 20 foi o ponto de virada para a crise climática. A guinada na industrialização e o decorrente aumento da queima de combustíveis fósseis intensificaram o aquecimento global. Segundo o IPCC, a temperatura média global aumentou 1,09 ºC desde 1850. Desse aumento, apenas 0,02 ºC podem ser atribuídos a efeitos naturais. Os outros 1,07 ºC foram causados pela ação humana.

Devemos atingir 1,5 ºC em 2030, uma década mais cedo do que o IPCC havia previsto em 2018. O pior: não dá mais tempo de evitar isso. Mesmo considerando o cenário mais otimista, as simulações ainda mostram que atingiremos a marca na próxima década.

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O que ainda dá tempo de mudar é o que pode acontecer depois de 2030. No cenário ideal (aquele em que fazemos de tudo para cortar as emissões dos gases de efeito estufa), a temperatura global diminuiria 0,1 ºC entre 2080 e 2100 – ou seja, ficaríamos 1,4 ºC mais quentes em comparação ao início do século 20. No pior cenário, a Terra chegaria ao fim deste século 5,7 ºC mais quente do que na era pré-industrial.

O nível do mar aumentou 20 cm desde 1900 – e pode chegar a dois metros até 2300

Uma das consequências mais diretas do aumento da temperatura global é o derretimento das calotas polares, aumentando o nível dos mares – o que ameaça a biodiversidade e as regiões litorâneas. 

A taxa de elevação do nível do mar triplicou nos últimos anos. Entre 1901 e 1990, a média de aumento era de 1,35 mm por ano. Já entre 2006 e 2018, ela passou para 3,7 mm por ano.

Se o aumento de temperatura atingir 2 ºC, o nível do mar deve aumentar mais meio metro no século 21. E dois metros até 2300. No pior cenário, atingiríamos essa marca ainda neste século. 

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Eventos extremos serão cada vez mais comuns.

Sabe aquele verão insuportável que só acontecia a cada 20 anos? Ou a tempestade anormalmente forte que derruba as árvores da cidade? Eles serão cada vez menos raros. 

Segundo o IPCC, eventos de calor extremo ficaram mais frequentes na maior parte do mundo desde a década de 1950. Também é provável que o número de furacões intensos tenha aumentado nas últimas quatro décadas.

Caso mantenhamos o aumento de 1,5 ºC ao longo do século 21, as ondas de calor que ocorriam a cada dez anos passarão a acontecer a cada dois. No pior dos cenários (que considera o aumento de impressionantes 5,7 ºC) elas passam a ocorrer anualmente.

Já os raríssimos eventos de calor, que só aconteciam a cada 50 anos, também serão mais frequentes – e ainda mais quentes. No melhor dos cenários, eles serão 8,6 vezes mais comuns e 2 ºC mais quentes em comparação com o início do século 20. No pior dos casos, eles passam a ser 39,2 vezes mais frequentes – e 5,3 ºC mais quentes.

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Mais chuva no sul, mais seca no norte

Para facilitar a tomada de decisões a curto prazo, o relatório também apresentou algumas projeções regionais; a região amazônica é um dos destaques.

O Norte e Nordeste do Brasil devem sofrer com períodos maiores de seca. Para o Centro-Sul há a projeção de um aumento de chuvas fortes concentradas em poucos dias. Também há previsões de secas agrícolas no Norte e no Centro-Oeste, o que pode aumentar não só a incidência de incêndios florestais, mas também o preço de alimentos.

A nova edição do relatório contou com a colaboração de 801 autores, incluindo 21 brasileiros. O documento completo possui mais de mil páginas e é destinado principalmente a formuladores de políticas públicas, mas o IPCC também apresenta um sumário executivo com as principais conclusões em apenas 39 páginas. Você confere ele aqui.

O documento foi assinado pelos representantes científicos dos 195 países que compõem a Organização das Nações Unidas. Outras duas partes dele estão previstas para 2022. 

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Se você acompanha a Super ou qualquer outro veículo jornalístico, sabe que o relatório confirma o que vem sendo demonstrado em outros estudos e em fenômenos climáticos recentes. O Canadá registrou 50 ºC no verão deste ano, enquanto incêndios florestais ocorrem na Sibéria. Mesmo a neve no sul do Brasil é um reflexo da crise climática.

“Esse relatório precisa ser o sino da morte para o carvão mineral e os combustíveis fósseis, antes que eles destruam nosso planeta”, disse António Guterres, secretário-geral da ONU. “A ciência já fez a sua parte. Não tem mais discussão sobre a influência do homem. A questão das mudanças climáticas agora é sobre comunicação científica” conclui Paulo Artaxo, pesquisador da USP e membro do IPCC.

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