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Larva de 555 milhões de anos é animal mais antigo de nossa linhagem

Com simetria bilateral, esse bichinho do tamanho de um grão de arroz já tem ânus, boca e um plano corporal similar ao dos vertebrados de hoje em dia.

Por Carolina Fioratti
27 mar 2020, 16h43

Há cerca de 600 milhões de anos, a Terra passava por uma era curiosa chamada Ediacarano. Seres bem estranhos viviam por aqui. A vida multicelular, visível a olho nu, estava dando seus primeiros passos – até hoje, fica difícil para os cientistas distinguirem o que era planta e o que era animal dentre os fósseis da época. Mas nós não podemos duvidar que essas criaturinhas pioneiras tiveram uma grande importância. 

Por exemplo: os poríferos – esponjas, para os íntimos – que são considerados os animais mais pretinho básico, pouquíssimo complexos. Mas, nesse bolo, também havia criaturas como o Dickinsonia, um organismo que parece uma folha, mas com certeza não é uma planta. Seria ele um animal? Essa é uma pergunta difícil. Os fósseis escassos não carregam informações suficientes para que os cientistas confirmem com propriedade a que categorias eles pertencem. 

Agora, resquícios recém-descobertos em uma caverna australiana parecem pertencer à espécie da biota ediacarana mais parecida com os animais atuais que já foi encontrada. Pesquisadores da Universidade da Califórnia acreditam que o fóssil de 555 milhões de anos pode ser o representante mais antigo do ramo da árvore da vida que leva a nós. E aos cachorros. E aos elefantes. E às girafas…

A criatura se assemelha a um grão de arroz – é minúscula e tem formato larval. Ela é, provavelmente, o ser mais antigo conhecido com simetria bilateral, ou seja: com o lado esquerdo e o direito do corpo simétricos, como nos seres humanos, e com aberturas em duas extremidades ligadas por um intestino (isso mesmo, boca e ânus). Não só nós, mas os gatos, cachorros, borboletas, formigas e até os dinossauros (hoje pássaros) são assim. Os planos corporais são a característica mais fundamental compartilhada por seres vivos diferentes. 

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Mas esse novo camarada é realmente pequeno. Ele cresce, no máximo, uns sete milímetros. Por isso, não tão fácil assim identificá-lo. Os pesquisadores notaram algumas deformações nas paredes da caverna, que por si só não provam nada. Então, com auxílio de um scanner laser tridimensional (viva a tecnologia), conseguiram analisar as forma e bater o martelo: eram corpinhos cilíndricos com cabeça, cauda e musculatura estriada, que permitia sua locomoção. Aqui embaixo, você pode ver as marcas na caverna. 

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(Droser Lab/UCR/Superinteressante)

A espécie antiquíssima ganhou um nome: Ikaria wariootia. A origem é da língua Adnyamathanha, usada pelos indígenas da região dos Montes Flinders, em que ocorreu a descoberta. “Ikara” significa “local de encontro” e “wariootia” é por causa do rio Warioota Creek, que passa por ali. 

Se você não está dando nada pra essa larvinha, saiba que, para a época, ela é bem mais complexa do que parece. Ela provavelmente escavava camadas finas de areia no fundo do oceano em busca de matéria orgânica para se alimentar, demonstrando habilidades sensoriais rudimentares. Suas tocas tinham pequenos desenhos em forma “V”. Isso significa que a Ikaria se movia igual uma minhoca, contraindo os músculos do corpo e realizando locomoção peristáltica. É por causa disso, inclusive, que os cientistas acreditam que havia ali um trato digestivo, já que não há evidências diretas do corpo do animal (só seu “molde” em baixo relevo). 

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