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Machos de chimpanzé usam sinais sutis (e outros nem tanto) para pedir sexo

Existem centenas de sinais, que variam de acordo com o grupo. Mas, em algumas regiões, a ação humana já afeta esse tipo de comportamento.

Por Manuela Mourão
15 fev 2025, 14h00

Antes do Tinder e da reação com fogo no Instagram, um encontro com segundas intenções tinha que ser conquistado com lábia, jogo de cintura e um certo nível de objetividade. Os nossos primos na escala evolutiva, os chimpanzés, não compartilham das facilidades da era digital – mas nem deixaram de desenvolver métodos para sinalizar que estão afim de uma “rapidinha”.

Um novo estudo publicado na revista Current Biology revelou os diferentes jeitos que os macho da espécie pedem sexo para as fêmeas, e como cada cada comunidade de chimpanzé tem seu gesto único. Além disso, o estudo também alerta que esses gestos vêm sendo perdidos com o distúrbio humano à vida desses animais.  

Roman Wittig, um antropólogo evolucionista do Instituto de Ciências Cognitivas do CNRS, a agência nacional de pesquisa francesa, junto a um time de pesquisadores, analisaram 495 gestos de quatro comunidades diferentes de chimpanzés da floresta Taï, na Costa do Marfim.

Os sinais escolhidos são sutis e buscam atrair a atenção apenas de uma parceira que esteja por perto, para evitar o confronto com outros machos.

Comunidades do sul e do leste da floresta foram vistos performando um gesto nomeado de “corte de folhas” pelos autores, em que os macacos arrancavam tiras de uma folha – esse é o bat sinal para a cópula. Já as comunidades do nordeste usavam o “knuckle knock”, no qual os machos batem os dedos em superfícies duras, como se estivessem batendo em uma porta.

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Além desses sinais específicos, os machos de todos os quatro grupos também balançavam galhos para frente e para trás e chutavam os calcanhares para pedir por sexo – esse sinal é um pouco menos discreto entre os amantes e pode gerar intrigas. 

A quilômetros de distância da Costa do Marfim, uma comunidade de chimpanzés da Uganda demonstrou seus próprios gestos, como batucar um objeto com as duas mãos.

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“Os chimpanzés parecem ter uma série de gestos inatos — comportamentos que todos eles podem realizar — que assumem significados diferentes em diferentes comunidades”, Wittig disse para a Science.

Os gestos foram descobertos e interpretados por Honora Néné Kpazahi, uma assistente de campo que acompanhou a equipe na floresta e trabalha com as populações de chimpanzé de Taï há mais de 30 anos.

Kpazahi lembrou que o knuckle knock, usado por populações no nordeste, tinha sido comum no passado entre os grupos do norte. O sumiço do sinal tem a ver com o declínio populacional dos nortistas: no início dos anos 1990, eles perderam membros para o ebola; em 1999, uma doença respiratória que se espalhou graças aos humanos deixou apenas dois machos adultos na comunidade. 

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Em 2004, um chimpanzé chamado Marius, um dos dois machos restantes, foi morto por caçadores. Com apenas um macho restante no grupo, já não havia mais necessidade de chamados discretos para acasalar – e, assim, o grupo do norte perdeu o costume do gesto de dialeto. 

Essa é a primeira pesquisa a revelar que os chimpanzés usam gestos discretos para pedir por sexo e a primeira a documentar o desaparecimento de um comportamento cultural específico devido à perturbação humana.

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“Vemos constantemente por toda a Costa do Marfim como as florestas são esvaziadas por caçadores ilegais”, diz Inza Koné, biólogo conservacionista do Centro Suíço de Pesquisa Científica na Costa do Marfim e um dos autores do estudo. 

Para o autor, a perda de conhecimento cultural por causa da perturbação humana, como a caça e a perda de habitat, ameaça a sobrevivência dessa espécie. “É semelhante à perda de diversidade genética, pois a perda de conhecimento cultural pode afetar a capacidade dos chimpanzés de se adaptarem a mudanças em seu ambiente”, diz Koné para a Science.

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