Microplásticos no cérebro podem alterar o comportamento de ratos
Em uma nova pesquisa, os animais apresentaram sintomas similares à demência em humanos. Entenda.
Microplásticos são fragmentos de materiais plásticos (dã) descartados. São tão pequenos quanto um grão de areia (de 0,001 a 5 milímetros) e demoram até 500 anos para se decompor. Nesse meio tempo, vão se dividindo em fragmentos ainda menores.
Há pelo menos 14 milhões de toneladas de microplásticos nos oceanos. Eles já foram achados em duas das mais isoladas e extremas regiões do planeta:a Fossa das Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos (11 mil metros), e o topo do Everest, 8 mil metros acima do nível do mar.
Os microplásticos também estão dentro de nós. Estudos já os identificaram na placenta, circulando na corrente sanguínea e no tecido cerebral (nesse último caso, foram fragmentos ainda menores, os nanoplásticos). Estima-se que ingerimos de 70 a 120 mil fragmentos de microplásticos por ano. É o mesmo que mandar pra dentro um cartão de crédito por semana.
A presença deles, claro, pode impactar a nossa saúde. No último mês de agosto, um estudo publicado no International Journal of Molecular Science identificou microplásticos no cérebro de ratos – e sugeriu que isso pode alterar o comportamento deles.
Para chegar a essa conclusão, cientistas da Universidade de Rhode Island, nos EUA, ofereceram água com microplásticos para um grupo de ratos jovens e adultos. Ao mesmo tempo, em um grupo controle, eles forneceram água potável normal.
Após três semanas, os ratos que beberam a água contaminada apresentaram um comportamento diferente daqueles que beberam água normal, semelhante à demência em humanos.
A ingestão da água contaminada diminui os níveis de uma proteína chamada GFAP, que está envolvida em várias atividades das células cerebrais, como a captação de neurotransmissores e o desenvolvimento dos astrócitos, células responsáveis por sustentar e alimentar os neurônios. Estudos anteriores já mostraram que em ratos, a diminuição dessa proteína pode estar relacionada a estágios iniciais de Alzheimer, além de depressão.
De acordo com uma das pesquisadoras envolvidas no estudo, Jaime Ross, as mudanças foram desencadeadas com porções pequenas de microplásticos (uma concentração de 0,01 a 1000 μg/mL), e após um curto período de tempo após a ingestão.
Ainda é cedo para cravar que humanos possam sofrer, na mesma medida, o que os ratos sentiram. Mas a pesquisa alerta para os efeitos dos microplásticos à nossa saúde – e que mais estudos sobre o assunto devem ser conduzidos.
“Ninguém realmente compreende o ciclo de vida desses microplásticos no corpo, então parte do que queremos abordar é a questão do que acontece à medida que você envelhece”, escreveu Ross. “Você fica mais suscetível à inflamação sistêmica causada por estes microplásticos à medida que envelhece? Seu corpo consegue se livrar deles facilmente? Suas células respondem de forma diferente a essas toxinas?”