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Não: a vitamina C não funciona contra gripes e resfriados.

Uma breve história da mais famosa das vitaminas – do escorbuto nas caravelas à pseudociência de Linus Pauling.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 jun 2025, 12h53 - Publicado em 24 jun 2025, 12h09

Em 20 de maio de 1747, o cirurgião James Lind fez um experimento com 12 marinheiros a bordo do HMS Salisbury, da Marinha Real britânica. Em seu relato, lê-se que sofriam todos com “gengivas pútridas, manchas na pele, fadiga e fraqueza nos joelhos” – a lista clássica de sintomas do escorbuto, doença causada pela falta crônica de vitamina C.

Lind separou o grupo em seis duplas e testou seis curas diferentes – todas sugestões comuns na época, que se espalhavam entre marujos nas conversas em portos, entrepostos e estalagens: sidra de maçã, vinagre, limões, água do mar, um bálsamo extraído de uma árvore latino-americana e até uma substância chamada vitríolo (nome genérico para os sulfatos de diversos metais: zinco, cobre, ferro etc.).

Só os limões deram certo, e o experimento entrou para a história da ciência como um dos primeiros testes clínicos controlados.

Há um certo exagero aí. O fato é que houve diversas ocasiões, da Antiguidade até hoje, em que amadores inspirados redescobriram a eficácia dos cítricos contra o escorbuto. E alguns também chegaram lá com aplicações rudimentares do método científico.

Por exemplo: ainda em 1601, um capitão chamado James Lancaster teve a ideia de fornecer suco de limão a apenas um dos quatro navios de sua flotilha, a título de experimento. O resultado, você pode imaginar.

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A curiosidade de Lancaster não surpreende, já que a péssima saúde dos tripulantes foi um trauma das Grandes Navegações. Estima-se que a deficiência de ácido ascórbico tenha matado 2 milhões de marinheiros europeus entre 1500 e 1800; o historiador Jonathan Lamb, de Princeton, calcula que “em 1499, Vasco da Gama perdeu 116 de seus 170 tripulantes; em 1520, Fernão de Magalhães perdeu 208 de 230”.

Com o tempo, os portugueses passaram a plantar pés de laranja e limão em Santa Helena – uma ilhota atlântica descoberta em 1502 a meio caminho entre as colônias que hoje são Angola e Brasil –, onde deixavam os marujos debilitados se recuperando para pegarem carona na próxima caravela que aportasse por lá.

Na Europa, porém, era comum que acadêmicos de nariz empinado descartassem a limonada como uma cura anedótica, sem base científica, enquanto as autoridades das Companhias das Índias Orientais – que se preocupavam mais em cometer atrocidades humanitárias na Ásia do que com a saúde laboral dos funcionários – não investiam em uma prevenção tão cara: frutas frescas eram difíceis de obter na época.

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Em 1912, quando o bioquímico polonês Casimir Funk enunciou o conceito de vitaminas como o conhecemos hoje, ele já suspeitava que o então misterioso “fator antiescorbuto” dos limões e das laranjas fosse uma delas.

Mas foi só após uma série de investigações de laboratório acirradas entre 1928 e 1933 – em que um grupo de pesquisa húngaro e outro americano disputaram a primazia da descoberta – que a fórmula e a estrutura da molécula de ácido ascórbico vieram à tona.

Além de ser antioxidante [entenda no texto sobre a vitamina E], a principal função da vitamina C é participar de um processo chamado hidroxilação, essencial para tecer as moléculas de colágeno que dão liga e substância à nossa pele, dentes, tendões etc.

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Uma coisa que o ácido ascórbico definitivamente não faz é curar ou evitar gripes e resfriados. Mesmo assim, essa afirmação falsa sustenta até hoje uma indústria de pastilhas efervescentes sabor laranja. Quem começou esse boato não foi um tiozão do Whats, mas o químico Linus Pauling, duas vezes Prêmio Nobel.

Nos anos 1970, já veterano, ele fundou uma área pseudocientífica chamada medicina ortomolecular. Ela gira em torno da ideia de que doses altíssimas de vitaminas, superiores às recomendações diárias, podem fazer bem para a saúde.

Essas alegações não têm respaldo em evidências sólidas, mas, devido à reputação de Pauling, foram influentes e contribuíram para a desinformação na área da nutrição – bem como para os lucros das fabricantes de suplementos.

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