Nasa vai usar balão do tamanho de um estádio para estudar formação de estrelas
O balão manterá um telescópio suspenso a 40 km de altitude no céu da Antártica – de onde ele observará a galáxia M83 e dois berçários de estrelas na Via Láctea.
Um telescópio de 2,5 metros de comprimento é a mais nova aposta da Nasa para desvendar os segredos da formação de estrelas no Universo. Para isso, porém, o aparelho vai precisar de uma “ajudinha” de um balão inflável do tamanho de um estádio de futebol.
A missão em questão é a ASTHROS, que está prevista para decolar em Dezembro de 2023, na Antártica. O projeto do Jet Propulsion Laboratory (JPL) da Nasa prevê que o telescópio passe três semanas no céu do continente gelado, observando fenômenos que se desenrolam a milhares de anos-luz da Terra.
O principal diferencial do novo equipamento, segundo a equipe, é que ele consegue captar luz no espectro infravermelho – são ondas eletromagnéticas mais compridas que as do espectro visível, que nossos olhos enxergam. O problema é que, caso o telescópio fosse implantado no nível do solo, a espessa atmosfera da Terra acabaria bloqueando uma parcela valiosa dessa radiação.
É por isso que o aparto será levado aos céus por um enorme balão de hélio – que, quando completamente cheio, terá 150 metros de diâmetro. Essa estrutura gigantesca ficará flutuando na estratosfera, a uma altitude de mais ou menos 40 quilômetros – o que é quase quatro vezes a altitude mais comum para um avião de passageiros. O tamanho monumental é exatamente o que permite que essa bexiga cósmica alcance uma altitude tão grande.
Note, porém, que a ASTHROS não alcançará oficialmente o espaço aberto (que começa a mais ou menos a 100 km da superfície terrestre, quando a atmosfera se torna imperceptível de tão rarefeita).
Em seu voo, o telescópio ASTHROS vai observar quatro regiões do espaço pré-definidas. Duas delas são áreas de intensa formação estelar na nossa galáxia, a Via Láctea. A missão conta com um instrumento que consegue medir a velocidade e mapear o movimento dos gases em torno de uma estrela recém-formada, além de conseguir detectar e mapear a presença de íons (átomos eletricamente carregados) na região, o que permitirá entender melhor o processo de nascimento desses astros.
Além dessas duas regiões, a missão vai investigar a Galáxia Messier 83 (ou Galáxia Catavento do Sul), que é conhecida por sua intensa atividade de supernovas (violentas explosões de estrelas moribundas, sem combustível). O entendimento atual dos astrônomos é de que essas explosões, ao expelir um bocado de material em suas redondezas, perturbam a formação de estrelas jovens. Mas as previsões teóricas ainda não são corroboradas por muitas observações desse fenômeno acontecendo na prática.
A última das quatro espiadas do telescópio será na TW Hydrae, uma estrela jovem semelhante ao nosso Sol que está cercada por um denso disco de poeira e gás, onde acredita-se que planetas estejam sendo formados. O ASTHROS vai conseguir mapear a distribuição de massa de material na região, e assim identificar os pontos onde a massa está concentrada, apontando exatamente a localização desses planetas.
Tanta tecnologia avançada envolvida pode parecer até não combinar com um “simples” balão, que pode ser percebido como um tipo antiquado de locomoção. Bobagem: há 30 anos a Nasa tem seu Programa de Balões Científicos, que lança entre 10 e 15 missões por ano para auxiliar experimentos da agência em todo o mundo.
Projetos com balões tem várias vantagens, em especial um custo mais baixo se comparado com missões que usam naves espaciais. Além disso, eles são planejados e postos em prática em um tempo bem menor. Por esses motivos, missões com balão geralmente permitem que cientistas ousem mais e arrisquem novas tecnologias que não poderiam ser colocadas em prática em missões caras.
“Missões de balão como o ASTHROS são de maior risco que missões espaciais, mas resultam em recompensas grandes a um custo modesto”, explicou, em comunicado, Jose Siles, gerente de projeto da missão. “Com o ASTHROS, nosso objetivo é fazer observações astrofísicas que nunca foram tentadas antes. A missão abrirá o caminho para futuras missões espaciais, testando novas tecnologias e fornecendo treinamento para a próxima geração de engenheiros e cientistas”.