População de botos amazônicos cai pela metade em 10 anos
Novo estudo mostra dados alarmantes. E a culpa é do uso da carne deles como isca.
O boto é uma figura curiosa no folclore brasileiro. Pai de muitos bebês nascidos sem casamento, amigo dos pescadores nas águas violentas, salvador de canoas abandonadas. Só tem um problemas: esse simpático golfinho de água doce pode virar lenda de verdade, caso sua população continue caindo como agora.
Na bacia amazônica, existem basicamente duas espécies de botos: o famoso boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o boto-preto (Sotalia fluviatilis), também conhecido como tucuxi. Esses eram espécimes abundantes nos momentos áureos da bacia, mas hoje, de acordo com um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), eles estão quase em extinção. Nos últimos dez anos, a população do boto-cor-de-rosa foi reduzida pela metade, e o tucuxi ainda está pior — foram necessários apenas nove anos para a mesma redução.
A pesquisa, publicada na revista científica PLOS ONE, usou dados dos últimos 22 anos (de 1994 a 2017), obtidos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas — onde os botos eram contados mensalmente. As taxas encontradas são as mais severas desde que se começou a medir a caça de baleias e golfinhos. Aliás, a pesca desenfreada é uma das razões pelo declínio constante. Em 2014, diversos veículos de comunicação denunciaram que a carne do boto-cor-de-rosa era usada como isca para a pesca na Amazônia, mas parece que de lá para cá as medidas tomadas não têm sido eficazes.
Atualmente, essas duas espécies não constam na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação (IUCN Red List) por falta de dados numéricos. Segundo o estudo, se a lista usar essas novas informações para definir o quão ameaçadas as espécies estão, elas seriam colocados na categoria “criticamente em perigo”, a última antes de o animal ser extinto.