O bebê de três pais
Inglaterra quer liberar técnica que combina DNA de um homem e duas mulheres; objetivo é evitar doenças genéticas
O sistema de saúde inglês pretende começar a oferecer este ano um procedimento que resulta na formação de bebês com DNA de três pessoas. Normalmente, uma criança recebe metade de seu material genético da mãe e metade do pai. Mas também há espaço para um terceiro participante. É que dentro das mitocôndrias, as estruturas que geram energia para alimentar nossas células, há outro tipo de DNA: o mitocondrial. Os cientistas acreditam que seja resíduo de uma antiga bactéria, incorporada por nossos ancestrais ao longo da evolução. Normalmente, você herda o DNA mitocondrial da sua mãe (pois herda as mitocôndrias que vêm dentro do óvulo). Mas esse código genético pode vir com defeito. Quando isso acontece, a pessoa desenvolve doenças sérias, como distrofia muscular e problemas cardíacos.
Os ingleses tiveram uma ideia: implantar o embrião (que contém os genes da mamãe e do papai) no óvulo de outra mulher, que forneceria o DNA mitocondrial. O procedimento recebeu críticas de entidades religiosas e de políticos, que o consideram uma forma de eugenia. Também houve quem dissesse que o procedimento pode gerar crianças defeituosas. “É verdade”, diz o microbiologista Alex Berezow, da Universidade de Washington. “Mas uma mãe que tem problema nas mitocôndrias pode muito bem querer aceitar o risco.” Juridicamente, a mulher que forneceu o DNA mitocondrial não teria direitos sobre a criança. “É como os homens que doam espermatozoides”, explica o advogado Luiz Felipe do Vale Tavares.