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O novo caminho para a Lua

Dificilmente haverá uma onda de financiamento como a que permitiu o Projeto Apollo. Mesmo assim a humanidade vai retornar à Lua – em breve.

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 8 ago 2019, 16h15 - Publicado em 2 ago 2019, 13h50

Muito antes de ser chamado a projetar o Saturn V, foguete gigante que levaria as naves Apollo à Lua, Wernher von Braun escreveu em 1952 um artigo na revista Collier’s em que rascunhava o futuro espacial prestes a se desfraldar. Ele acreditava que em primeiro lugar seriam desenvolvidos foguetes para transporte até a órbita terrestre, seguidos pela construção de uma estação espacial tripulada gigante, de onde futuramente poderiam ser enviadas missões à Lua e, mais tarde, a Marte.

Na década seguinte, a Guerra Fria inverteria essa lógica, obrigando o presidente John F. Kennedy a apostar de cara no objetivo mais difícil – a conquista da Lua. Só que, uma vez vencida a corrida espacial, a Nasa não teria mais um cheque em branco e seria obrigada a realizar novos projetos com recursos mais modestos. Para dar uma ideia, no auge do gastos com o programa Apollo, em 1966, ela chegou a comandar quase 5% do total do orçamento federal americano. Atualizando pela inflação, seriam cerca de US$ 46 bilhões, só naquele ano.

Daquele ponto em diante, o orçamento da Nasa foi murchando e, em 1971, um ano antes do fim das viagens à Lua, atingiu o patamar atual. Hoje, corresponde a 0,5% do orçamento federal, cerca de US$ 20 bilhões. Isso, por si só, explica por que a Nasa não foi mais à Lua e ainda estamos a aguardar uma nova onda de exploração lunar. Felizmente, as circunstâncias estão mudando e, meio século após as primeiras expedições, há razões para acreditar que a década de 2020 terá novamente humanos voando ao redor da Lua – e possivelmente até pousando nela.

Uma nova cápsula, chamada Orion, e um novo foguete, o SLS, prometem realizar missões lunares tripuladas a partir de 2022.

Em 2003, com o acidente do ônibus espacial Columbia, uma comissão foi criada para avaliar o programa espacial americano. Ficou claro então que faltava um objetivo de longo prazo, e no ano seguinte o presidente George W. Bush anunciou um plano de retorno à Lua até 2018, em preparação para uma futura viagem a Marte. Foi criado o Projeto Constellation, uma tentativa de repetir as velhas missões lunares numa escala maior, algo que o então administrador da Nasa Mike Griffin definiu como “Apollo com anabolizantes”. Mas faltou dinheiro, e em 2010 o presidente Barack Obama decidiu cancelar a iniciativa.

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O Congresso, contudo, impediu a perda total. Em vez disso, salvou a cápsula Orion – versão moderna da Apollo – e manteve também em desenvolvimento um superfoguete, o SLS, comparável ao Saturn V. (A ideia por trás do SLS é baseá-lo em tecnologias desenvolvidas para os ônibus espaciais, aproveitando a infraestrutura disponível. O maquinário para fabricação do velho Saturn V, claro, há muito se perdeu.)

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Cápsula Orion em teste no Pacífico. (Divulgação/NASA)

Ambos os projetos vêm andando meio que aos trancos e barrancos, mas têm assentamento em toda a experiência adquirida com a gestão da Estação Espacial Internacional (ISS). Por exemplo, o módulo de serviço da Orion é fornecido pela ESA, a Agência Espacial Europeia. É certo que a próxima empreitada lunar será realizada em regime de parceria entre países – modelo oposto ao que foi adotado na Guerra Fria.

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Com efeito, a Nasa decidiu que irá construir uma pequena estação orbital ao redor da Lua, o Lunar Gateway, nos mesmos moldes da ISS, com contribuição de vários países. Em fevereiro, o Canadá foi o primeiro país a aderir formalmente, comprometendo-se a produzir um braço robótico. Espera-se que Japão, Rússia e países europeus também embarquem no projeto.

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Concepção artística da estação lunar proposta pela Nasa. (Divulgação/NASA)

Mais importante que isso, a Nasa está fazendo um esforço danado para realizar o primeiro lançamento do SLS com uma cápsula Orion, sem tripulação, em 2021. No ano seguinte, o voo seria tripulado – a primeira viagem aos arredores da Lua desde a Apollo 17, meio século antes. E aí tentar pousar humanos de volta na Lua na terceira missão SLS/Orion, em 2024. O novo projeto foi batizado apropriadamente de Artemis. Afinal, na mitologia grega, Ártemis é a irmã de Apolo, e é certo que as novas missões terão mulheres nas tripulações que conduzirão a segunda grande era de exploração lunar.

Muito bem, tudo lindo. Mas vai acontecer ou é só programa espacial de powerpoint, como vários dos planos infalíveis da Nasa nas últimas décadas? Desta vez, graças a inovações extraordinárias na indústria, um retorno à Lua na próxima década parece bem provável, quiçá inevitável – como veremos a seguir.

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