O toco de árvore que se recusa a morrer
Mesmo sem folhas para fazer fotossíntese, tronco decepado sobrevive com uma mãozinha da árvore ao lado — e a descoberta muda o que se sabia sobre a ecologia das florestas
Para o observador desavisado, uma floresta parece um amontoado de vegetais competindo por luz solar e nutrientes. Debaixo da terra, porém, a coisa muda de figura. No mundo oculto e subterrâneo de uma mata, quem reina é a cooperação. Não é de hoje que os naturalistas sabem que raízes de duas ou mais árvores vizinhas podem se fundir, e parecem obter vantagens assim. Mas como e por que exatamente fazem isso continua sendo um grande mistério.
Mas uma descoberta recente promete lançar luz sobre este aspecto da vida secreta das árvores. Em uma floresta da Nova Zelândia nos arredores da cidade de Auckland, dois ecólogos se depararam com uma visão um tanto peculiar enquanto faziam uma trilha. Eles viram um toco de árvore que, à primeira vista, parecia estar morto — como todos os tocos de árvore que vemos por aí. Só que, olhando mais de perto, notaram que ele estava vivinho.
Sebastian Leuzinger e Martin Bader, pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Auckland, relataram ao New York Times que se aproximaram do toco e viram tecido vivo. Só não conseguiram decifrar como aquilo era possível. Sem folhas para fazer fotossíntese, como um tronco decepado a poucos palmos do chão era capaz de sobreviver? Intrigados, os cientistas voltaram com aparatos para investigar.
Instalaram no toco e na árvore ao lado instrumentos para medir o fluxo de água. Durante a fotossíntese, as plantas abrem os poros de suas folhas para que o dióxido de carbono possa entrar. Também permitem que o excesso de água coletada do solo saia por esses poros no processo de transpiração. Claramente, o toco deu um jeito de fazer o líquido circular de alguma outra maneira. Leuzinger e Bader descobriram como.
Seus resultados mostraram que o funcionamento das duas plantas estava intimamente interligado. Nos dias de sol, a árvore transpirava e bebia água do solo, enquanto o toco permanecia dormente; já quando chovia ou era noite, era o toco quem se hidratava, e a árvore ficava quieta. Ao que tudo indica, a fusão de várias raízes criou um verdadeiro sistema de encanamento compartilhado no subsolo daquela floresta.
Por esses “canos” fluem não só água, como também carbono e outros nutrientes — tudo que uma planta precisa para viver. Como um humano em estado vegetativo sobrevivendo às custas de aparelhos, o toco se agarra à vida através das substâncias que recebe de outras árvores pelos canos. A pesquisa foi publicada nesta quinta (25) no periódico iScience. Para ter certeza, os ecólogos precisarão cavar e deixar as raízes expostas.