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Neandertais, e não os Homo Sapiens, foram os primeiros artistas da Terra

Arqueólogos descobrem pinturas de 65 mil anos em cavernas da Espanha – 20 mil anos mais antigas que a chegada do Homo sapiens à Europa

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 jul 2019, 13h43 - Publicado em 23 fev 2018, 16h38

Os seres humanos modernos conheceram neandertais, mataram neandertais e até tiveram filhos com neandertais. Prova disso é que praticamente toda a população mundial tem pelo menos 2% de DNA de Homo neanderthalensis – a exceção são as pessoas com ascendência 100% africana.

Acontece que nossa semelhança com esses hominídeos são se limitava à aparência física. Na corrida intelectual, um novo estudo revela, eles também não deviam nada ao Homo sapiens. Um grupo de pesquisadores europeus datou pinturas pré-históricas encontradas nas paredes de três cavernas na Espanha. E descobriu que elas têm 65 mil anos. Não parou por aí: em um segundo artigo científico, a equipe revela conchas decoradas com pigmentos minerais de 115 mil anos.

O bacana dessas peças não é só que elas foram produzidas antes de o ser humano chegar à Europa, há cerca de 40 mil anos. É que elas foram produzidas antes mesmo de o ser humano começar a fazer arte, mais ou menos na mesma época. Em outras palavras, os neandertais não só foram artistas como foram artistas antes de nós – uma descoberta que contraria o consenso científico vigente: de que o Homo sapiens é a única espécie capaz de representação simbólica que já caminhou na Terra.

Na caverna de La Pasiega, perto de Bilbao, no norte do país, um desenho de 64,8 mil anos lembra vagamente uma escada – não se sabe seu significado. Em Maltravieso, no oeste da Península Ibérica, uma mão de 66,7 mil anos decora uma parede de rocha. E na caverna de Ardales, perto de Malaga, um toque de design de interiores: estalagmites e estalactites pintadas de vermelho há 65,5 mil anos decoram o ambiente.

“Para mim, isso encerra o debate sobre os neandertais”, afirmou ao The Guardian João Zilhão, pesquisador da Universidade de Barcelona e um dos envolvidos no estudo. “Eles são parte da nossa família, sem grandes diferenças cognitivas. Eles não eram menos inteligentes. Eles eram só uma variação da civilização humana, que não existe mais.”

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A descoberta foi recebida com ceticismo pela comunidade científica. Em entrevista à Nature, especialistas sem envolvimento no estudo questionaram a eficiência do método de datação utilizado. De maneira simplificada: há um camada de carbonato de cálcio (CaCO) acumulada sobre os desenhos. E ela contém rastros de urânio. O urânio é instável, e com o passar do tempo se transforma em outro elemento, o tório. O ritmo em que essa transformação ocorre é conhecido com precisão, o que transforma o mineral radioativo em uma espécie de relógio natural.

Não há nada que garanta que os rastros de urânio no CaCO têm a mesma idade dos desenhos. É possível que o carbonato de cálcio mais antigo, acumulado nas partes mais altas da caverna, tenha escorrido com uma ajudinha da água, e se fixado na frente dos desenhos. Os pesquisadores, porém, afirmam que dataram três camadas de CaCO, e que elas estão organizadas na ordem cronológica. Não tem pegadinha. “Nós não conseguimos pensar em nenhum processo que recristalizasse o carbonato sem tirá-lo da ordem estratigráfica”, afirmou Alistair Pike, da Universidade de Southampton, outro participante do estudo.

 

 

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