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Óxido nitroso: como um item culinário se tornou a nova droga recreativa dos EUA

Mais conhecido como “gás do riso”, ele é usado em festas desde o século 19. Agora, uma versão saborizada do produto conquistou os jovens americanos.

Por Maria Clara Rossini
12 abr 2025, 19h00

Talvez você já tenha inalado óxido nitroso. A molécula composta por dois átomos de nitrogênio e um de oxigênio (N2O) é um gás incolor à temperatura ambiente. Ele é usado como um analgésico e sedativo na área médica – e principalmente na cadeira do dentista. O “gás hilariante” ou “gás do riso”, como é conhecido popularmente, já foi até tema de um curta-metragem de Charlie Chaplin.

Para além da anestesia, o óxido nitroso é usado na indústria automobilística e na culinária. Nesse último caso, ele serve para “aerar” o creme de leite e fazer chantilly. Dentro do aplicador de chantilly existe um tubo com óxido nitroso que pode ser recarregado.

Acontece que esses tubos não são práticos apenas na culinária. Eles têm sido usados por jovens nos Estados Unidos como substância recreativa. A inalação do gás promove efeitos semelhantes a estar embriagado: sensação de mente leve, relaxamento, euforia e, naturalmente, maior propensão ao riso. 

O óxido nitroso é usado com esse intuito desde o século 19. Mas sua popularidade tem crescido nos últimos anos: em 2018, 12,5 milhões de americanos já haviam provado a substância. Em 2022, já eram 14 milhões. O que causou o ressurgimento da droga?

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Há alguns fatores. Em 2021, uma marca americana chamada Galaxy Gas surgiu no mercado. Ela produz tubos de óxido nitroso saborizados, com o intuito de deixar o chantilly com gosto de morango, banana, uva etc. Já dá para imaginar: os cilindros de gás com sabor chamaram a atenção de uma faixa etária que já é forte usuária de vapes.

O Galaxy Gas ganhou popularidade no TikTok em 2024, quando milhares de pessoas compartilharam vídeos inalando o produto. O nome da marca virou sinônimo de qualquer tubo culinário de óxido nitroso. A plataforma de vídeos chegou a bloquear pesquisas que contenham a tag Galaxy Gas.

O produto é vendido em lojas de tabacaria e sex shops – o que já mostra que o público alvo não é exatamente chefes de cozinha. 

Acontece que, fora do ambiente médico, dos motores de carro ou do chantilly, o óxido nitroso pode levar a problemas graves de saúde. Além de danos neurológicos a longo prazo, a inalação pode levar à hipóxia (falta de oxigênio) imediata e até morte.

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Histórico do Óxido Nitroso

O óxido nitroso foi descoberto em 1772, na Inglaterra. Já no século 19, ele passou a ser usado de forma recreativa. Poetas e filósofos inalavam o gás como forma de inspiração. A elite britânica fazia “festas de gás hilariante”, em que o óxido nitroso era oferecido em sacos aos convidados. O químico inglês Humphry Davy documentou os estados alterados de consciência dos usuários em um livro.

Ilustração de 1840 de um homem inalando óxido nitroso e outro experimentando seus efeitos.
(Wikimedia Commons/Reprodução)

Ainda no século 19, o showman americano Gardner Quincy Colton descobriu o óxido nitroso. Ele passou a promover palestras sobre o gás, em que explicava as propriedades científicas da molécula e convidava os participantes a testá-la.

O dentista Horace Wells compareceu a uma dessas palestras, em 1844. Ele observou que um dos participantes havia machucado a perna logo após inalar o gás, mas disse não sentir dor. Isso chamou a atenção de Wells para o possível uso do óxido nitroso como anestésico durante a extração dentária. 

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A partir daí, o gás foi estudado e testado. Ele ganhou espaço na medicina, onde é utilizado até hoje – geralmente em conjunto com outras substâncias.

O que o óxido nitroso faz no cérebro

Assim como outras substâncias psicoativas, o óxido nitroso atua em neurotransmissores do cérebro – que afetam como nos sentimos, nos lembramos de acontecimentos e como processamos a dor. O gás inibe os receptores NMDA, que estão relacionados à dor e à aquisição de memória. Quando isso acontece, surge a sensação de euforia e dissociação.

Ele também estimula a liberação de opioides endógenos, que promovem relaxamento e alívio da dor. O óxido nitroso ainda atua nos receptores GABA-A, o que reduz a ansiedade e estresse.

Devido a essas propriedades, o óxido nitroso faz com que as pessoas relaxem e sintam menos dor durante procedimentos médicos. Na cadeira de dentista, ele é administrado em níveis controlados, junto com oxigênio.

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Perigos do uso

No uso recreativo, não há como controlar a quantidade de óxido nitroso que o corpo absorve. Ele substitui o oxigênio nos pulmões e consequentemente no sangue. Dessa forma, os órgãos vitais não recebem a quantidade de oxigênio suficiente para funcionar bem. Sem oxigênio no cérebro, os usuários podem ficar tontos ou desmaiar após a inalação. A longo prazo, a privação de oxigênio continuamente pode causar problemas neurológicos.

O abuso de óxido nitroso também interrompe o metabolismo da vitamina B12 no corpo. Esse nutriente é essencial para a formação de hemácias e o funcionamento do sistema nervoso. Quando a vitamina B12 é “desativada”, o indivíduo pode ter anemia e danos neurológicos permanentes.

Ainda não existem muitos estudos sobre o potencial de vício da droga. Embora o óxido nitroso não cause dependência física, ele pode levar à dependência psicológica. Altos riscos para um barato curto.

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