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Peixes-palhaço trocam de sexo para garantir segurança da comunidade

Com a morte da mãe de Nemo, uma versão cientificamente correta do filme terminaria com Marlin se tornando fêmea e cruzando com o próprio filho. É, a natureza tem dessas coisas.

Por Bela Lobato
1 jun 2025, 14h00

Uma das famílias animais mais populares de Hollywood é, na verdade um exemplo de que a biologia, sexo e gênero são coisas bem mais diversas que as simplificações humanas. Estamos falando de uma espécie que você provavelmente conhece: o peixe-palhaço, estrela da série de filmes Procurando Nemo.

O que pouca gente sabe é que a versão da Disney sobre esses animais é bem imprecisa e que uma versão biologicamente correta seria, no mínimo, polêmica. 

Funciona assim: todos os peixes-palhaço começam a vida como hermafroditas, e podem se tornar machos ou fêmeas ao longo da vida. Eles vivem em comunidades de 3 a 7 indivíduos em anêmonas, aqueles animais imóveis cheios de tentáculos que parecem um arbusto marinho. 

Nessas comunidades, o maior indivíduo é sempre a fêmea, responsável por defender o território, enquanto o segundo maior é um macho reprodutor, que cuida dos ovos. Os outros são jovens imaturos sexualmente.

Se a fêmea morre, o macho reprodutor troca de sexo e se torna a fêmea dominante, e um dos outros jovens amadurece para se tornar o macho reprodutor. O primeiro passo é o domínio social: o macho reprodutor, que antes obedecia à fêmea, começa a mostrar mais agressividade e toma a frente do grupo. 

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Depois, as mudanças começam a acontecer no cérebro: a composição celular das partes que controlam as gônadas sexuais mudam para a forma feminina. Daí, o corpo começa a crescer e os testículos, a diminuir. Um ovário que já estava lá, dormente, começa a amadurecer para produzir óvulos.

A transição pode levar meses ou anos, mas, ao final, o peixe é efetivamente reconhecido pelos outros como uma fêmea, e passa a assumir as funções sociais de fêmea. O testículo é reabsorvido pelo corpo, e o núcleo pode voltar a produzir novos filhotes.

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Existem mais de 500 espécies de peixes que usam mecanismos de troca de sexo. A vantagem é que, na ausência de uma fêmea, ninguém precisa se arriscar saindo da anêmona para buscar novos parceiros. Essa viagem poderia ser perigosa, expondo os peixes a predadores e competição por alimento. 

Não é só preguiça: as anêmonas, que podem ser venenosas para outros peixes, são excelentes protetoras dos peixes-palhaço. É uma relação simbiótica, ou seja, mutuamente benéfica, já que o movimento dos peixes faz circular a água e traz partículas importantes para a alimentação da anêmona. Com a troca de sexo, a reprodução do núcleo se resolve ali, na vizinhança mesmo.

Vamos pensar, então, em como seria uma versão cientificamente correta do filme Procurando Nemo. A história começa quando uma barracuda se alimenta da mãe de Nemo e todos os outros ovos de seus irmãos, deixando Nemo e o pai, Marlin, sozinhos. 

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Nos oceanos do mundo real, uma situação como essa faria com que Marlin transicionasse para o sexo feminino. Nemo, então, amadureceria para se tornar o macho reprodutor, e teria que continuar o legado da família com o próprio pai. Não seria exatamente o blockbuster familiar típico da Disney, mas, talvez, uma dramática novela mexicana roteirizada pela natureza.

Fonte: Casas, L., Saborido-Rey, F., Ryu, T. et al. Sex Change in Clownfish: Molecular Insights from Transcriptome Analysis. Sci Rep 6, 35461 (2016). https://doi.org/10.1038/srep35461

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