Pinguins conseguem reconhecer rostos e ‘vozes’ uns dos outros, indica estudo
A habilidade parte de capacidades cognitivas sofisticadas e é encontrada principalmente em mamíferos. Os pinguins africanos são a primeira ave, além dos corvos, a demonstrar esse comportamento.
Humanos são capazes de reconhecer indivíduos com facilidade, combinando informações de diferentes sentidos – como visão e audição. Esse processo parece banal para nós, mas é raro entre os animais e demanda capacidades cognitivas sofisticadas.
O reconhecimento de outros indivíduos é encontrado principalmente em mamíferos (como leões, cabras, cavalos e macacos). Mas um novo estudo mostrou que pinguins africanos também apresentam essa habilidade – e são a primeira ave, além dos corvos, a demonstrar isso.
Os pinguins africanos (Spheniscus demersus) vivem na costa sudoeste da África, têm cerca de 60 centímetros de comprimento e apresentam manchas em seus peitos que os diferenciam uns dos outros. Os pesquisadores mostraram que essas aves são capazes de se reconhecer a partir da voz e das feições, uma capacidade que teria sido desenvolvida para melhorar a comunicação entre os indivíduos das colônias.
Luigi Baciadonna, pesquisador da Universidade de Torino (Itália) que liderou o estudo, afirma que essa habilidade vem a calhar em um ambiente “desafiador” como os que esses pinguins habitam. Entre rochas e ondas, reconhecer uns aos outros visualmente pode ser difícil. Por outro lado, o barulho do vento e das ondas pode atrapalhar a comunicação vocal entre os indivíduos de uma colônia. “Portanto, a capacidade de integrar identificadores visuais e auditivos pode ser necessária quando uma das pistas não está disponível.”
Os pesquisadores estudaram dez pinguins que vivem em cativeiro, em um parque italiano chamado Zoomarine. Os animais foram divididos em pares e colocados em um local separado.
Cada par de pinguins permanecia no local por um minuto, até que um dos indivíduos era conduzido para fora por uma porta – ficando além do campo de visão do seu parceiro. Vinte segundos depois, os pesquisadores tocavam, acima da porta, um áudio pré-gravado com um chamado de pinguim. Às vezes, era do pinguim que acabara de deixar o local; às vezes, era um pinguim aleatório da mesma colônia.
Os pesquisadores fizeram o experimento seis vezes com cada pinguim, em seis dias diferentes. Eles perceberam que o pinguim que permanecia no local separado sempre reagia ao chamado olhando para a porta. Mas ele fazia isso duas vezes mais rápido quando o chamado era de um pinguim aleatório, e não daquele que acabara de sair do local.
Segundo o estudo, isso parte de uma quebra de expectativa: os pinguins esperavam escutar um chamado do parceiro que estava no local, em vez de outro indivíduo. Essa surpresa os faria olhar mais rápido à porta.
Esse comportamento indicaria que os pinguins têm uma “imagem mental” uns dos outros, na qual associam imagem e som. E quando o chamado tocado era aleatório, isso entrava em conflito com a lembrança do pinguim que acabara de passar pela porta.