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Poluição atmosférica pode fazer insetos acasalarem com a espécie errada

O ozônio bagunça os feromônios das moscas, faz com que elas confundam seus parceiros e gerem descendentes inférteis. E isso prejudica a sobrevivência da espécie.

Por Leo Caparroz
15 abr 2024, 18h03

Está difícil até para os insetos encontrem parceiros – mas eles, pelo menos, podem culpar o ar poluído. O ozônio na atmosfera quebra os feromônios das moscas, o que faz com que elas se confundam na hora de acasalar.

É o que aponta um estudo publicado na Nature Communications. Ano passado, esses pesquisadores descobriram que o ozônio degradava os feromônios dos insetos, que são sinalizadores químicos essenciais para o acasalamento. Por causa do ozônio no ar, moscas macho ficavam menos atraentes para as fêmeas.

O ozônio é um gás importante na estratosfera – lá que fica a camada de ozônio, que absorve grande parte da radiação ultravioleta, possivelmente prejudicial para nós. Na troposfera, a camada mais baixa da atmosfera, o ozônio funciona como um gás de efeito estufa e contribui para o super aquecimento do planeta. Ele é formado quando óxidos de nitrogênio, como as emissões de automóveis, reagem com outros gases no ar com ajuda do calor.

Em sua nova pesquisa, os cientistas investigaram mais a fundo a relação do ozônio e dos feromônios, e constataram que o gás afetava a capacidade das moscas de identificar se o seu parceiro era da mesma espécie que ela.

Eles se concentraram em quatro espécies de moscas comuns: Drosophila melanogaster, Drosophila simulans, Drosophila sechellia e Drosophila mauritiana. Machos e fêmeas dessas espécies foram expostos a níveis elevados de ozônio, comparáveis ao de um dia quente numa cidade, durante 2 horas. Os pesquisadores botaram as fêmeas para escolher entre dois machos, sendo um da mesma espécie e outro não.

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Na natureza, os feromônios servem como um sinal químico para a fêmea – ela percebe o cheiro familiar e escolhe o macho mais apropriado para ela. Acasalar com membros da mesma espécie é importante, pois garante que os descendentes serão férteis, poderão gerar mais filhotes e dar continuidade à espécie.

Depois de expostos ao ozônio, os machos deixaram as fêmeas bem confusas. Em 70% dos casos, rolou acasalamento fora da espécie e os descendentes produzidos eram híbridos. No grupo de controle, que foi exposto ao ar ambiente, isso ocorreu em apenas 20% dos casos.

A taxa de confusão foi bem mais elevada na espécie D. simulans. Depois do ozônio, ela não conseguiu distinguir as espécies em nenhuma das vezes, por mais que ainda tivesse sinalizadores visuais e auditivos. 

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Até o momento, existem mais de 1.500 feromônios de insetos descritos quimicamente. Cerca de 90% deles têm ligações duplas carbono-carbono, que é exatamente o que o ozônio destrói quando reage com esses compostos.

A maioria dos híbridos são estéreis. Isso quer dizer que eles não podem gerar novos descendentes e não contribuem para a preservação da espécie – são pontos finais em uma linhagem.

Segundo os pesquisadores, o aumento dos níveis de ozônio na superfície pode aumentar as taxas de extinção de insetos ao redor do mundo. Mais e mais insetos estéreis significa que a reprodução vai ficar cada vez mais difícil, e a população desses bichos vai cair aos pouquinhos – até que eles beirem a extinção.

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