Predador anterior aos dinossauros é encontrado no Rio Grande do Sul
O Pampaphoneus biccai é o maior predador que viveu na América do Sul antes dos dinossauros.
Pesquisadores do Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) encontraram registros fósseis de um velho predador, que viveu antes dos dinossauros, 265 milhões de anos atrás.
Os ossos do Pampaphoneus biccai foram encontrados na zona rural de São Gabriel, município no Rio Grande do Sul e incluem um crânio completo, ossos da costela, falanges, braço, entre outras partes do esqueleto. Esse é o segundo exemplar de P. biccai já encontrado pela universidade, e o mais completo até agora.
“Já encontramos dois crânios completos, um em 2008 e outro em 2019, publicado agora. Além disso, nosso estudo permitiu atribuir um fragmento de mandíbula publicado em 2000 à espécie”, afirma Mateus Costa Santos, pesquisador da Unipampa e autor do estudo, em entrevista à Super. “Isso quer dizer que foram encontrados três espécimes: os dois crânios e um fragmento de mandíbula.”
Pampaphoneus viveu durante o período Permiano, o último da era Paleozóica. Depois de uma extinção em escala planetária, quando quase 90% da vida da Terra foi dizimada, começou a era Mesozóica – a era dos dinossauros.
Antes dos lagartos terríveis serem donos da terra, um dos principais mandantes da superfície eram os dinocefálios, como o P. biccai. Eles eram animais de médio a grande porte, tanto carnívoros quanto herbívoros. Seus ossos cranianos eram espessos, o que deu origem ao seu nome: dinocefálio significa, em grego, “cabeça terrível”. Esse prefixo é a maior semelhança compartilhada entre as duas espécies.
“Os dinocefálios são sinápsidos: eles apresentam uma única abertura temporal atrás da órbita, os dinossauros possuíam duas. Os mamíferos, assim como o Pampaphoneus, também apresentam esta única abertura. Apesar de não serem mamíferos nem ancestrais dos mamíferos, os dinocefálios são muito mais próximos de nós do que são dos dinossauros, por exemplo”, afima Costa Santos.
Embora bem conhecidos na África do Sul e Rússia, estes fósseis são incomuns em outras partes do planeta. No Brasil, Pampaphoneus biccai é a única espécie conhecida. A descoberta recente é importante pois ajuda pesquisadores a entender melhor a espécie gaúcha e distingui-la de seus parentes estrangeiros.
“Trata-se também do indivíduo mais completo da espécie, com ambos os lados do crânio bem preservados”, afirma Costa Santos. “Encontrar outro espécime também nos mostra que havia maior abundância desses animais aqui no Brasil. Na Rússia e África do Sul estes animais são numerosos – e aqui, até então, os fósseis eram escassos.”
O bom estado de preservação também permitiu aos pesquisadores traçar novas suposições sobre os hábitos e vida do maior predador sul-americano do período Permiano.
Segundo os pesquisadores, os dentes do animal eram grandes e afiados, com uma mordida forte o bastante para mastigar ossos. O exemplar encontrado, com crânio de 40 cm, tem 9 dentes pós-caninos bem robustos, com serrilhas na frente e atrás. As estimativas sugerem que os espécimes de P. biccai poderiam chegar a quase 3 metros de comprimento e pesar cerca de 400 kg.
Com essas características, ele era um caçador habilidoso e veloz, já que suas presas abocanhavam animais de pequeno a médio porte – como o pequeno dicinodonte Rastodon (o coitadinho que você vê sendo devorado no topo deste texto) e o anfíbio gigante Konzhukovia, além do réptil Pareiasaurus, com o tamanho aproximado de uma vaca.
A descoberta foi publicada no periódico Zoological Journal of the Linnean Society.