Raça não determina personalidade do cachorro, sugere estudo
A pesquisa concluiu que apenas 9% das diferenças de personalidade entre raças têm origem genética.
O filme “Marley e Eu” tem todo o estereótipo do labrador: brincalhão, hiperativo, amoroso e bagunceiro. Se o protagonista fosse um pinscher, o filme teria sido bem diferente. Esses cães em miniatura são famosos por serem estressados, nervosos e bravos. Mas até que ponto podemos atrelar a personalidade de um cachorro à raça?
Pesquisas anteriores já mostraram que alguns traços de personalidade estão atrelados à genética da raça. Algumas raças, por exemplo, foram selecionadas para serem caçadoras, enquanto outras são boas para ficar de guarda. Mas essa comparação só faz sentido quando se olha para o comportamento médio entre as raças, e não comparando os cães individualmente.
O projeto Darwin’s Ark vem coletando dados genéticos de milhares de cães nos Estados Unidos desde 2015. Os donos enviam uma amostra de células da bochecha do cachorro, junto com um questionário sobre a personalidade do animal. As perguntas vão desde o comportamento dele com estranhos até se o cão anda em círculos antes de fazer cocô.
Pesquisadores da Universidade de Massachusetts compararam as informações genéticas e de personalidade de 2 mil cães de 128 raças diferentes, incluindo misturas entre raças. A equipe concluiu que 80% da aparência do cachorro está relacionada ao DNA.
Mas o mesmo não vale para a personalidade. Menos de um quarto das diferenças de personalidade podem ser explicadas pela genética. Traços como trazer a bolinha de volta e sociabilidade com humanos estão enraizados nos genes. Faz sentido: no início da domesticação canina, os humanos selecionaram os lobos mais dóceis e amigáveis para serem seus melhores amigos. E o ato de trazer objetos de volta pode ter ajudado os ancestrais dos cães a caçar.
Já os traços de personalidade que geralmente associamos a raças – como sociabilidade com outros cães ou facilidade em adestrar – não estão no DNA. Um labrador pode ser amigável ou hostil com outros cachorros, enquanto um pastor alemão pode ser obediente ou cabeça dura.
Segundo a pesquisa, publicada no periódico Science, apenas 9% das diferenças entre as personalidades dos cães podem ser associadas à raça. O estudo não encontrou, por exemplo, diferenças nos níveis de agressividade entre pit bulls e outras raças.
O grupo criou um site que mostra os resultados da pesquisa de forma interativa. Ela aponta que 62% dos goldens são amigáveis com humanos – em oposição a 22% dos dachshunds (o famoso salsicha). Já os huskys siberianos lideram a sociabilidade com outros cães (68%), enquanto os goldens caem nesse quesito (39%).
No final das contas, cada cão é único. E não dá para adotar ou comprar uma raça esperando que ela tenha uma personalidade específica. O comportamento do cachorro também depende do ambiente em que ele vive e da maneira como foi criado. A genética também importa, mas não é tão determinante quanto acreditávamos.