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Sonda da Nasa detecta primeiro terremoto em Marte

Parece um simples vendaval, mas não é: o tremor sentido pela InSight no planeta vermelho foi a primeira evidência de abalos sísmicos marcianos da história.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 24 abr 2019, 15h33 - Publicado em 24 abr 2019, 15h12

Pouco mais de quatro meses após pousar em solo marciano, a sonda InSight, da Nasa, sentiu o planeta vermelho tremer pela primeira vez. Segundo a agência espacial americana, o abalo foi detectado no último dia 6 de abril, e parece ter vindo do interior do planeta.

Apesar dessa suspeita, os cientistas não conseguiram cravar o ponto exato em que o terremoto aconteceu. O balanço foi sutil demais para que fosse possível mapear como a energia sísmica se irradiou, passo importante para entender o que existe no centro de Marte – um dos principais objetivos da missão.

“A superfície marciana é extremamente silenciosa, o que permite captar tremores sutis”, explica o Laboratório de Propulsão a Jato, da Nasa, em comunicado. “Em comparação, a superfície da Terra treme constantemente devido ao barulho criado pelos oceanos e correntes de ar. Se um tremor da mesma intensidade acontecesse no sul da Califórnia, por exemplo, acabaria perdido entre dezenas de pequenos balanços que acontecem todos os dias”.

Na Terra, os abalos sísmicos são resultado de fraturas no solo que nascem com o movimento das placas tectônicas – as camadas de rocha que envolvem o planeta. Marte, no entanto, não possui placas do tipo. Por lá, os problemas são outros: devido às baixas temperaturas, a superfície está constantemente resfriando e contraindo. Esse movimento aumenta o estresse entre as rochas. Muito estresse acumulado, por fim, acaba quebrando camadas de pedra na superfície, liberando energia na forma de tremores. Vira e mexe, meteoritos despencam no planeta, o que também pode causar terremotos.

No vídeo a que você pode assistir abaixo, dá para ouvir três sons captados pelo sismógrafo SEIS (sigla em inglês para Experimento Sísmico para Estrutura do Interior). Extremamente sensível, ele foi posicionado no solo de Marte pela InSight em 19 de dezembro de 2019, dias após à chegada. O primeiro som que ouvimos é resultado do vento pela superfície de Marte, depois o causado pelo terremoto em si, e, por fim, o barulho do braço robótico da sonda se movendo para tirar fotos do planeta vermelho.


O barulho lembra o de um vendaval, e provavelmente sequer fez cócegas na superfície de Marte. Mesmo assim, foi muito comemorado pelos pesquisadores. “Esperamos por um sinal desse tipo durante meses”, disse Philippe Lognonné, cientista francês que lidera o time responsável pelo SEIS. “É muito empolgante encontrar provas de que Marte é sismicamente ativo. Estamos ansiosos em compartilhar resultados mais detalhados, assim que tivermos tempo para analisá-los.”

Outros possíveis tremores marcianos foram flagrados nos dias 14 de março, 10 de abril e 11 de abril – mas foram ainda menos claros do que este que você ouviu acima. Segundo explica o Laboratório de Propulsão a Jato, o áudio foi acelerado 60 vezes. Isso porque as vibrações naturais de Marte não são audíveis ao ouvido humano.

“Provavelmente, foi um evento com magnitude de até 2 [na escacla Richter], e que aconteceu a cerca de 100 quilômetros de distância. Essa estimativa é um tanto incerta, mas é o que parece ser”, disse Tom Pike, pesquisador envolvido na análise dos dados obtidos pelo sismógrafo, em entrevista à BBC.

Sem contar a Terra, só havíamos sido capazes de detectar tremores do tipo na Lua. De acordo com os pesquisadores, o sismo marciano é bem parecido com aqueles que as missões Apollo captaram em território lunar, entre 1969 e 1977.

No futuro, a ideia é obter informações sobre a estrutura interna de Marte, incluindo aspectos como o tamanho e a densidade da crosta, manto e núcleo – além da dinâmica de calor do planeta e o total de água que existe em seu interior. Desvendar o que as camadas mais profundas de Marte escondem pode ajudar cientistas a entender como outros planetas rochosos (como a Terra, por exemplo) se formaram, há milhões de anos.

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